Passos N.134, Fevereiro 2012

Um trabalho no trabalho

Claro, a onda já vem de longe. Muito antes da crise internacional. Há anos estão em curso mudanças cada vez mais velozes. Mas se há um âmbito em que a situação atual incide de maneira pesada, inclusive alterando suas próprias características e deslocando pesos e medidas, é o mundo do trabalho.
Não se trata apenas de uma questão de mecanismos econômicos, como se podia pensar até alguns anos atrás, de mutação da mão de obra, de deslocamento, de evolução tecnológica e de novas instabilidades. É um fato que vai mais fundo. Porque o trabalho vale mais do que números e balanços: diz o que somos, fala do nosso modo de entender a nós mesmos e a relação com a realidade. É “expressão do nosso ser”, como evoca Dom Giussani com frequência. É aí, “na ação”, diante de uma tarefa a cumprir ou da louça para lavar, que aparece com clareza de onde partimos para viver, qual hipótese adotamos no confronto com a realidade. Portanto, é aí que a crise nos desafia, em certos aspectos até mais do que em outros setores.

E, então, como está mudando – ou pode mudar – a nossa visão do trabalho neste período? E o que significa abordar esse aspecto em nossas jornadas, colocando à prova o juízo que estamos fazendo nestas semanas, isto é, que a crise é, antes de tudo, “um desafio para a mudança”? O trabalho, com todas as novas e concretíssimas inseguranças que traz consigo – os cortes, o desemprego, a renda a perigo –, é algo que sufoca ou uma oportunidade? Uma preocupação ou uma provocação?

Nós apostamos na segunda hipótese. E não é uma aposta sem base. Nós a fazemos depois de percorrer uma trajetória de leitura que entra no mérito das mudanças no mundo do trabalho: o mercado, a oferta, as estruturas, o que serve e o que não serve mais. Mas a fazemos também contando histórias que documentam essa trajetória, que fazem emergir toda a verdade e a sua concretude. De certo modo, dão rosto e alma àquela ideia que está ecoando em cerca de oitenta cidades italianas e se amplia mundo afora com encontros públicos de apresentação do documento de CL sobre a crise: a realidade é positiva, inclusive agora. E a crise é, de fato, uma oportunidade para mudar. Desde que se leve a sério a si mesmo e o próprio desejo. Que não se censure a própria humanidade. Numa palavra: que nos coloquemos em trabalho. Sobre nós mesmos.