Passos N.154, Dezembro 2013

De Pedro para Pedro

Dois mil anos foram queimados em poucos minutos. Quando, no dia 24 de novembro, o Papa Francisco segurou o relicário contendo as relíquias de Pedro e as olhou longamente, atônito, perante a praça lotada para a missa que encerrava o Ano da Fé, muitas pessoas ficaram pensativas. Nestes dois mil anos até agora, ocorreu uma cadeia ininterrupta de fatos, rostos e testemunhas para que aquele acontecimento que iremos festejar – a presença de Deus no mundo – chegasse até nós. Dois mil anos repletos de uma Presença que, basicamente, tem um único propósito: a nossa felicidade, a plenitude da nossa vida.

Logo após esse gesto, o Papa entregou ao povo de Deus um documento que, como ele mesmo diz, tem um “valor programático”, ou seja, expressa o que ele mais deseja comunicar. É um texto muito rico, como todos poderão ver ao se aprofundar no documento. Mas o título já diz tudo: Evangelii Gaudium, "a alegria do Evangelho", aquela que "preenche o coração e toda a vida daqueles que se encontram com Jesus".

Estas são palavras que ecoam aquelas que você encontrou na capa, tirada do Cartaz de Páscoa com o qual, como de costume, Comunhão e Libertação marca os momentos decisivos do ano. Naquele “vínculo que Cristo estabelece com você, não que você estabelece com Cristo”, como escreve Dom Giussani, está o centro desta alegria: um Fato, Ele que se doa. Não é uma ideia, um projeto a ser implementado ou uma meta a atingir. Mas Deus que, como o Papa nos recorda constantemente, “primerea”, vem primeiro e toma a iniciativa. Torna-se “uma presença que nos acompanha”. Tanto que “o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor, alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude”. Em duas palavras, usadas ainda pelo Papa, “dilata a vida”.

É esta a promessa de Natal: dilatar a nossa vida. Alargar, dar respiro e profundidade. Plenitude. É uma promessa decisiva: o que mais podemos desejar? Mas é também uma promessa simples para ser verificada. Não se trata de interpretações ou suposições. O teste para ver se a vida se dilata é um só: a própria vida, a experiência. Nós podemos saber se algo realmente preenche o coração apenas se nos encontrarmos, de modo inesperado e surpreendente, com o coração cheio. Sobre isso não podemos enganar ninguém, nem a nós mesmos. Quando isso acontece, é inconfundível. Bom Natal!