Passos N.162, Setembro 2014

A nossa fé despertada pelo seu testemunho

Publicamos como editorial o artigo de padre Julián Carrón do dia 12 de agosto de 2014 no jornal italiano Avvenire sobre a urgência de mostrar proximidade aos cristãos perseguidos.

Caro diretor, “se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento” (I Cor 12,26). Como não sentir toda a dilacerante dor dos nossos irmãos cristãos perseguidos? É um clamor que aumenta cada vez mais diante das enormes injustiças sofridas pelos cristãos em tantos lugares do mundo, obrigados a deixar tudo e a fugir de sua terra por um único motivo: o fato de ser cristãos. Parece incrível que, no século XXI, possa ainda acontecer algo do gênero.
“Há mais mártires hoje do que nos primeiros séculos da Igreja. Sim, mais mártires! Irmãos e irmãs nossos, que sofrem! Levam a fé até ao martírio” (Francisco. Vigília de Pentecostes com os Movimentos eclesiais. Palavras do Santo Padre, 18 de maio de 2013). Como podemos permanecer indiferentes diante dessas palavras do Papa Francisco? Evidentemente, estamos diante de um novo desafio, como nos recorda a Evangelii Gaudium: “Às vezes, estes [desafios] manifestam-se em verdadeiros ataques à liberdade religiosa ou em novas situações de perseguição aos cristãos, que, nalguns países, atingiram níveis alarmantes de ódio e violência” (Francisco. Exortação apostólica Evangelii Gaudium do Santo Padre, 24 de novembro de 2013, 61).

Mas, mesmo no meio desses sofrimentos, recebemos o testemunho de sua fé, como disse o Arcebispo de Mosul, numa entrevista recente: “São eles que começaram a me dizer que tinham necessidade de ser mais ligados à nossa fé. Eram eles que me diziam que tinham voltado a viver no meio de tantas dificuldades. Eles me diziam isso com palavras e eu, pelos seus olhos, compreendia que era verdadeiro. Compreendia-o pelo modo com o qual me diziam”, porque “quando cheguei era outra coisa. Eram outras pessoas. Mas, depois de seis meses, um ano, a mudança neles era palpável” (nesta edição de Passos, p. 14). Espero que nós consigamos conservar vivo o seu testemunho, de forma que eles despertem a nossa fé para poder vivê-la e testemunhar como eles nas circunstâncias nas quais cada um é chamado a vivê-la.
“Se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento. [...] Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois seus membros, cada um no seu lugar.” (I Cor 12,26-27). Exatamente por esta pertença comum ao corpo eclesial é que queremos carregar um pouco do peso da intolerância, incompreensão e violência que o mundo que recusa Cristo descarrega sobre as costas de nossos irmãos.

Como não sentir a urgência de mostrar toda a nossa proximidade aos cristãos perseguidos? Fazemos isso não apenas nos unindo ao clamor de todos aqueles que se dão conta desta ferida como se fosse infligida a si mesmos, para que estes fatos não passem em silêncio, mas sobretudo participando, com todas as nossas comunidades de Comunhão e Libertação, da oração por eles indicada pelos Bispos, unido-nos a toda a Igreja.