Passos N.170, Junho 2015

Um olhar redimido

Em agosto do ano passado, o encontro de abertura do Meeting de Rimini, o grande evento cultural promovido por Comunhão e Libertação, na Itália, era dedicado ao Oriente Médio. O convidado era o padre Pierbattista Pizzaballa, guardião da Terra Santa. Algumas poucas frases, e ele abria uma perspectiva nova. Ele dizia que para ler realmente os fatos, mais do que a análise política e histórica é preciso “um olhar religioso: alto, amplo, livre de medos e complexos”, o olhar de quem “não só confia nas próprias capacidades operativas, mas também entrega a própria vida a um Outro”. Em poucas palavras, “um olhar redimido”.
Dez meses depois, a situação tornou-se ainda mais dramática. No Oriente Médio assediado pela jihad, na Nigéria ferida pelo Boko Haram, no Quênia atormentado pelos Shabaab somalis, no Paquistão agredido pela lei antiblasfêmia, e em muitas outras partes do mundo, a perseguição aos cristãos aumenta. A Igreja, como nos recorda continuamente o Papa Francisco, é cada vez mais “Igreja de mártires”, de homens e mulheres “vítimas de perseguições e violências só por causa da fé que professam”.
Junto com as iniciativas que estão sendo tomadas por todos os níveis para frear esse sofrimento, para defender os direitos fundamentais dos cristãos e das outras minorias perseguidas como eles, essa opinião do padre Pizzaballa comove ainda mais, torna-se cada vez mais urgente. É preciso um olhar redimido. Mas, o que pode gerá-lo? De onde nasce?

Recentemente, em diversos países do mundo inteiro, aconteceram os Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação (cujo texto completo será anexado à edição de julho da revista). Foram abertos com este apelo: “Estamos ainda imersos na luz da noite de Páscoa”, ou seja, a “luz que Jesus ressuscitado introduziu para sempre na história. É à luz desse fato que a Igreja analisa tudo. Porque é só quando aparece definitivamente a luz da Ressurreição de Jesus que nós podemos compreender o que não conseguiríamos compreender sem ela: o significado último de tudo. (...) À luz da Ressurreição podemos encarar de frente a pergunta mais urgente do homem: verdadeiramente vale a pena ter nascido?”.
É esse o juízo sobre a História. Sobre todas as chagas da História, inclusive as mais dolorosas. É a luz da Ressurreição, é a presença de Cristo agora e em todos os momentos da História que redime o olhar. Liberta-o, torna-o capaz de olhar tudo sob uma nova perspectiva e uma profundidade que o homem, sozinho, não tem. Mas que sempre se encontra nos cristãos perseguidos. Há dor, sangue, sofrimento. Mas não é a morte que cantará vitória.

É esse olhar que queremos aprender. Também diante do atual cenário da economia e da política brasileira. Nesta edição temos uma reportagem especial que busca esclarecer como chegamos à crise que aflige atualmente o Brasil. E quais sãos as alternativas de crescimento do País. Exemplos de que existem pessoas na luta pela construção de uma vida melhor para si, e para todos os brasileiros.