Passos N.184, Setembro 2016

De onde nasce a esperança?

Após um longo, sofrido e desgastante processo de impeachment, acordamos com os jornais comentando os desafios do presidente Temer e fazendo incontáveis análises das chances de sucesso nas mudanças da economia. Após a euforia de uns, a raiva ou a frustração de outros, volta-se à mesmice de antes, pois as mudanças que realmente constroem o bem comum não acontecem de repente, mas vão amadurecendo no tempo. Exigem dedicação e paciência.
As contradições e ambiguidades da política no Brasil de hoje nos mostram, com uma clareza encontrada em poucos momentos da história, como é inútil colocar nossas esperanças nas forças do homem. A política é – sem dúvida – um campo de ação necessário, onde com o tempo nossas ações podem fazer a diferença, mas não é uma fonte de esperança.

A tradição judaico-cristã nos ensina que a esperança só pode vir do Senhor, de nosso encontro com Cristo. Mas como essa esperança pode trazer o gosto de novidade num contexto de corrupção política, crise econômica, desemprego, eleições em que os partidos insistem em oferecer mais do mesmo?
Sem dúvida, cada cristão maduro já fez a experiência da ação de Deus em sua vida, de como seu amor e sua misericórdia mudam nossa história de um modo que seria inexplicável a partir apenas de nossas forças. Mas essa ação passa, de um modo ou de outro, pela comunidade cristã, pela Igreja que carregou pelos séculos a mensagem e a companhia de Cristo para que chegasse hoje até nós.
Também na política e na economia, é por meio do nosso estar juntos, buscando a construção do bem comum e a criação de uma cultura do diálogo, que uma novidade pode ser gerada e ampliada.

A novidade não é o fruto de uma ideologia, de uma ideia ou de uma vontade poderosa. É o reconhecimento de algo que já está entre nós, a percepção de que algo já está acontecendo e pode crescer e dar frutos se for convenientemente regado e cuidado.
Por isso, esse período que se segue à votação do impeachment e as eleições municipais é um tempo para retomarmos o olhar atento para aquelas experiências ricas de humanidade e de vida nova que podem nos ajudar a julgar a política. Tanto a comunidade cristã quanto a sociedade em seu conjunto são ricas em experiências como essas. Nosso desafio é sermos capazes de olhar para elas e descobrir as indicações para a política que dali nascem.
A ideologia divide, a realidade reúne, facilita o diálogo. Quando partimos das experiências concretas e do desejo de bem que existe em toda pessoa (mesmo que muitas vezes traído pela própria pessoa) descobrimos que o outro é um bem, que podemos construir com ele apesar de nossas diferenças. Este é o caminho da verdadeira política, daquela que constrói o bem comum, ao invés de se deter num projeto de poder.