Passos N.205, Agosto 2018

Minuto a minuto

O que nos faz felizes? O que consegue preencher o coração do homem, até o fundo? Pode parecer uma pergunta banal, até mesmo insignificante quando a projetamos num cenário repleto de temas muito maiores à primeira vista: a política, a economia... A história. Ainda assim, é uma pergunta decisiva. A única que realmente conta, que vale a pena colocar-se e colocar sem tréguas. Porque a nossa vida se decide nisso, dia a dia, minuto a minuto.

Há um versículo do Evangelho de Mateus que Dom Giussani citava com frequência, já desde os primeiros dias de vida do Movimento: “De que adianta ganhar o mundo inteiro, e depois perder a si mesmo? Que pode o homem dar em troca de si?”. É um divisor de águas, um critério tão nítido, que sabemos bem o que acontece nas – raras – vezes em que o levamos a sério. Mas há outra frase sua, dita a um grupo de responsáveis de CL no início dos anos noventa, que tem uma dimensão parecida e, julgando a história, separa o essencial do supérfluo: “O grande problema do mundo de hoje já não é uma teorização interrogativa, mas uma pergunta existencial. Não: ‘Quem tem razão?’, mas: ‘Como se faz para viver?’”. Ou ainda: o que permite que o coração seja feliz, que os pulmões respirem, que o homem se levante e caminhe enquanto atravessa as dificuldades da vida? Afinal, a urgência que temos é esta: não formular análises mais precisas e teorias que resolvam o drama da história, mas viver.

O próximo Meeting de Rímini, no fundo, vai falar disso. Das “forças que movem a história” e do que preenche o nosso coração. Se perdermos esse nexo, se no ímpeto de procurar soluções para os grandes problemas que nos rodeiam – a violência, a dor inocente, as mil injustiças – deixarmos de lado essa pergunta sobre nós, aparentemente tão insignificante, não iremos muito longe. Com toda probabilidade estaremos destinados a acumular erro sobre erro. E é a própria história que nos diz isso, mesmo a mais recente (não é à toa que o título do Meeting deste ano seja uma frase dita logo após a crise de 68...). Porém, se formos à procura de Quem preenche de verdade o coração, se procurarmos fatos, testemunhas, circunstâncias que revelam essa plenitude – mostram que é real, acontece e então é possível –, imediatamente a perspectiva se torna diferente.

Pois bem, as páginas que vocês vão ler seguem o fio dessa busca. Das entrevistas do Destaque ao relato das famílias que esperam o Papa em Dublin (terra onde a fé parece derrotada pela história, mas em torno de quem a vive nasce uma realidade diferente); do testemunho sobre o verdadeiro diálogo num encontro em São Bernardo do Campo, até a esclarecedora entrevista com o teólogo Francisco Catão sobre as mudanças na Igreja. Testemunhas e fatos, sementes de uma sociedade diferente. Afinal, a história se move quando o homem muda. Quando eu mudo. Boa leitura.