Passos N.214, Junho 2019

A verdadeira diferença

Se há uma coisa que não podemos nos permitir, na situação de mal-estar generalizado em que estamos imersos, é não notar os fatos que vão na direção oposta. Nós os temos diante de nossos olhos, às vezes são até imponentes, e, no entanto, ainda corremos o risco de não ver a sua dimensão. Que não está tanto nos números, mas no método. Se seguirmos o fio desses fatos, se pararmos para olhá-los bem até o ponto de origem, esses eventos saem da natureza extemporânea de uma “bela iniciativa”: indicam um caminho. Certamente na contracorrente da desconfiança dominante e dos ressentimentos em vigor, mas real, e aberto a todos. E é a coisa mais urgente hoje.

Por isso é importante olhar para algumas iniciativas, que muitas vezes permanecem desconhecidas, porque carregam algo a mais do que solidariedade e voluntariado. Descobrimos a fonte que dá origem a muitas correntes de bem, pequenas e grandes, até confluírem – às vezes – em obras que desafiam o tempo (no “destaque”, falamos de Cotolengo, mas poderíamos dar dezenas de outros exemplos). Chama-se caridade. Isto é, o coração do modo de viver – e de compartilhar – que Cristo trouxe ao mundo. Fazendo-se Ele mesmo “dom de si, comovido” por nós homens, e tornando possível e desejável para nós homens imitá-Lo, como recordava Dom Luigi Giussani, o fundador do Movimento Comunhão e Libertação (CL).

A caridade é a marca mais forte do cristianismo na história, a verdadeira diferença. Neste sentido, que alegria receber o anúncio da canonização de Irmã Dulce, "o anjo bom da Bahia"! A caridade é capaz de atravessar as contingências, as épocas, os momentos sombrios, e construir, gerar uma humanidade diferente. Capaz de atrair aqueles que de uma fé reduzida a doutrina e moral não esperavam mais nada. E tudo sob uma condição: não esquecer a origem.

Não é por acaso que padre Julián Carrón, o guia atual de CL, sempre convide todos os membros do Movimento a participar da Coleta de Alimentos, e também de outras ações, como uma ocasião, em primeiro lugar, para verificar a fé. Ou seja, uma possibilidade para aprofundar o próprio vínculo com Cristo e, juntos, para entender melhor o que esse vínculo pode oferecer ao mundo ferido de hoje: se um simples “tapinha nas costas”, algum lampejo de bondade aqui e ali, ou algo mais sólido, talvez até decisivo. As reportagens desta edição querem ajudar nesta descoberta. São fatos e testemunhos pessoais que chegam a alcançar a sociedade e a política. Porque a caridade muda as pessoas, e constrói.