Passos N.219, Novembro 2019

O caminho para a verdade

Por que escrever na capa “vinde e vede”? Porque é o coração do cristianismo, que, além do que podemos pensar, não é um conjunto de ideias, regras e valores: é, acima de tudo, uma vida. São fatos e pessoas. Algo que acontece e, quando o interceptamos, nos surpreende por sua beleza. E provoca curiosidade, nos atrai. Ele pede que demos passos para descobrir a sua origem, para ver de onde vem essa novidade inesperada e, mesmo assim, correspondente à nossa humanidade. Naquele “vinde e vede” dito por Filipe ao cético Natanael – como nos muitos “segui-me” que pontilham o Evangelho – está toda a potência do único caminho que pode vencer o ceticismo, hoje como há dois mil anos: a experiência. “Veja você mesmo, julgue por si. Verifique se essa novidade que o intrigou é interessante para sua vida, se a torna mais intensa e mais verdadeira. Se abraça toda a sua pergunta de sentido e de felicidade”.

O caminho que Deus escolheu para se tornar conhecido e amado causa arrepios porque é o único que é possível para nós, o único verdadeiramente humano: passar pela nossa experiência. Desafiando até a última redução que podemos fazer a essa proposta, porque a palavra “experiência” é tão imediata quanto, frequentemente, deturpada. Estamos todos dispostos a reconhecer que, como disse Dom Giussani, “o caminho para a verdade é uma experiência”: a pessoa só cresce e aprende através de encontros, eventos, coisas que nos são contadas ou acontecem conosco. O que não passa por aqui parece abstrato. E, no entanto – e este é o equívoco – “fazer experiência” é muito mais do que “acumular coisas feitas”: requer a compreensão de qual é a natureza desses fatos. E, quanto mais imprevisíveis são, mais precisamos desse passo de consciência, porque eles não escapam enterrados por uma simples reação sentimental (“que bonito!”). Por si mesmo um acontecimento fascinante não nos faz crescer (o próprio Evangelho está cheio de pessoas que não ficam abaladas nem pelos milagres). Tomar consciência do que se trata, de quem está nos entregando como uma oportunidade para nós, sim. Pode nos mudar.

Cristo aposta tudo nisto. Não apela a regras, não impõe nada: submete-se ao teste da nossa experiência, à simples lealdade com que, se somos marcados por pessoas que vivem de uma maneira estranhamente fascinante, mantemos a pergunta que vemos florescer dentro de nós: “Do que se trata? Quem são esses?”. É a mesma pergunta – “Quem é esse?” – que vocês encontram no encarte central desta edição. É o texto do Dia de Início de Ano de CL, a Jornada de Outubro no Brasil, a proposta de um caminho para fazermos juntos, que se apoia justamente nisto: a experiência. O desejo é de que essa curiosidade se abra cada vez mais, sobretudo naqueles que pela primeira vez leem histórias como as das páginas seguintes, da vida dos jovens colegiais aos testemunhos de vários cantos do mundo. Mas também para aqueles que já estão nesse caminho há algum tempo, pois sempre precisamos de fatos que acontecem agora para não tomá-los como óbvios. Para não parar de crescer.