Passos N.221, Janeiro/Fevereiro 2020

A paternidade

No último número de Passos aprofundamos um ponto decisivo da Jornada de Outubro de CL, o encontro anual que marca a proposta educativa do Movimento e indica um percurso de trabalho. Foi a descrição do contexto em que estamos imersos – um “niilismo passivo” que envolve a sociedade e nossas vidas anestesiando energias, gostos, desejos – e uma indicação da única coisa que pode nos arrancar desse nada: testemunhas. Fatos e pessoas que mostram um modo diferente de viver, comunicam uma proposta de significado tão fascinante, que se tornam autoridade. Ou seja, pais. Porque geram e fazem crescer.

É uma questão tão crucial que agora vamos retomá-la. Indo a fundo dessa “autoridade” que nada tem a ver com poder, como Dom Giussani sublinhou na intervenção mencionada nessas páginas, mas “é sinônimo de paternidade”. E tem características inconfundíveis: “É o lugar onde a vida nova é mais límpida e mais clara”; “demonstra-se na experiência de uma maior liberdade”; e, justamente por isso, é também um “lugar de conforto, onde se vê que Cristo vence”. É aí que se abre a possibilidade concreta para qualquer um de que a dificuldade, a dor e as circunstâncias não sejam uma jaula: eu posso respirar e viver feliz, sempre. É o que todos estamos procurando. Quem não gostaria de se descobrir na experiência mais livre e feliz? Quem não quer que sua vida seja útil, plena, capaz de gerar e de “abrir caminhos novos” mesmo em um mundo que parece impenetrável à fé e, em vez disso, oferece aos cristãos “uma grande oportunidade” (como afirma Charles Taylor, um dos maiores filósofos vivos)?

Bem, o “Destaque” desta edição é uma pequena viagem por esta paternidade. Centrado, como sempre, em histórias e testemunhos, bem como em reflexões que ajudam a aprofundar o tema: porque aqui também o único critério válido é a experiência. Aquela “autoridade paterna”, justo quando não se trata de papeis (nem mesmo dos canônicos: pais, professores, padres, líderes vários...), acontece onde quer, e só pode ser vista em ação. “A frágil mulher que oferece uma moeda no cofre do templo de Jerusalém pode ser mais autoridade do que o chefe dos fariseus”, lembrava Dom Giussani. Não se impõe por mecanismos de poder: simplesmente nos pede que olhemos ao nosso redor e a reconheçamos.

É disso que o mundo tem sede. E isso podemos ver nas páginas seguintes da Revista, com um diálogo com pe. Pigi Bernareggi e alguns jovens. E também no relato da Coleta de Alimentos, gesto que chegou a sua 14° edição no Brasil, movendo as pessoas para o bem, criando ocasiões de diálogo. E, assim, se abrem as janelas, como pede o Papa Francisco, e se dá partida novamente na aventura do "sentido de viver".