Passos N. 225, Junho 2020

Caminho e recomeço

Para muitos o nome é “fase dois”, mesmo que os confins entre o “antes” e o “depois” ainda sejam muito mais vagos do que uma data marcada no calendário e nos deixem com a respiração presa. O início do ponto de virada após o momento mais agudo da pandemia não é o mesmo para todos: ocorre para alguns, enquanto outros ainda estão no meio do drama ou até correm o risco de entrar nele apenas agora (pense na África, para a qual muitos olham com apreensão mais do que compreensível...). Ainda assim, está claro que a espera é grande e há muita esperança sobre a palavra “recomeçar”. Mas o que é preciso para realmente começar de novo?

Certamente, regras e protocolos. Comportamentos responsáveis que ajudem a eliminar os focos do vírus e impedir que ele se propague. A iniciativa de todos, porque, embora a curva da Covid diminua, a da crise econômica aumenta. E a relação de coisas úteis e indispensáveis poderia continuar. Mas antes disso tudo, há uma condição. Aquela que Julián Carrón, o guia de CL, sintetizou no título do e-book publicado algumas semanas atrás: O despertar do humano. Da pandemia “vamos sair mudados, mas só se começarmos a mudar agora”, é dito naquele texto. Ou melhor, “se estivermos presentes no presente e aprendermos agora a julgar o que estamos vivendo”. Se nossa humanidade, de fato, despertou.

Nós quisemos aprofundar esse ponto. Entender o que é esse despertar, quais são suas características. Como? Pelas palavras de duas personalidades que se depararam com as ideias encontradas no livro de padre Carrón: um escritor espanhol, J. Á. González Sainz, e um teólogo inglês, Frei Timothy Radcliffe. Neste momento essas entrevistas nos ajudam a identificar companheiros de caminho que ajudam a aprofundar o que está acontecendo. E nos testemunhos de homens que mostram como o impacto com uma realidade tão dura, imprevisível na sua crueldade, em vez de mortificar a nossa liberdade pode movê-la, despertá-la. Pode provocar perguntas agudas e manter-nos atentos às respostas. Como o trabalho surgido entre diversas Obras Sociais em que uma rede de amizade operativa está permitindo compartilhar sugestões, auxílios, exemplos.

O verdadeiro teste dos próximos dias, ainda mais do que a triagem sorológica (muito importante, é claro), será ver-nos em ação. Isso pode levar-nos a uma consciência de nós mesmos e do outro – do valor do nosso eu e da realidade – que não tínhamos ganhado antes. Será nossa tarefa perceber os sinais desta humanidade despertada, em nós e nos outros, e dar-lhe espaço, segui-la. Para não interromper o caminho.

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