Passos N. 228, Setembro 2020

Esperanças e certezas

Quando falamos “escola”, veem logo em mente outras palavras. “Futuro”, por exemplo: para qualquer sociedade, em qualquer momento da história, o amanhã se joga ali, nas salas de aula. Ou "esperança", parente próximo da espera de felicidade que habita o coração das crianças e de quem as ama: pais, professores... A escola, afinal, existe para isso: guardar essa esperança, cultivar essa espera, é a sua própria natureza. Bem: se há uma área que a pandemia colocou em crise mais do que outras, é a escolar. Foi abalada, deslocada, dividida entre a necessidade de proteger as crianças (e famílias) do vírus e a necessidade de não arrancá-las de seu mundo, dos laços – fundamentais – com colegas e professores. Do que existe justamente para fazer com que se tornem homens, ou seja, capazes de enfrentar a realidade mesmo quando esta se apresenta com a face imprevisível de um drama global.

Por isso o desafio destes dias é decisivo. Enquanto escrevemos, a reabertura da escola ainda está em jogo, e não apenas no Brasil, e em cada Estado de modo diferente. Deseja-se recomeçar, ou até mesmo começar, visto que muitas escolas públicas não tiveram condições de implementar aulas on-line e os alunos aguardam em casa vendo os dias passar sem nenhum conteúdo sendo proposto. No entanto, nada é certo pois a pandemia continua a ameaçar este retorno presencial pelos riscos de contaminação. Horários e espaços, regras para alunos e professores permanecem um fator desconhecido para muitos. Mas decidimos falar da escola que virá, por um motivo simples: seja qual for a cara que ela tenha – presencial, à distância ou mista, como dizemos hoje –, o retorno traz consigo uma bagagem muito rica: a experiência dos últimos meses. Olhar dentro dessa bagagem, entender o que estamos aprendendo hoje, é fundamental para não perdermos a oportunidade de encarar o amanhã, o futuro com mais consciência. E para despertar a esperança.

Não foi por acaso que ela esteve entre as palavras-chave de um momento de virada, neste estranho tempo marcado pela Covid: o Meeting de Rímini. Não podemos considerar óbvio que a edição 2020 acontecesse. Nos últimos anos tornou-se um dos maiores eventos culturais do verão europeu, com público estimado em 1 milhão de pessoas em uma semana formada por um conjunto de mesas-redondas, palestras e mostras culturais. Mas foi uma graça superabundante ver que a riqueza do que surgiu quando os organizadores decidiram arriscar, tentar realiza-lo igualmente, porém de um modo novo, para oferecer uma contribuição que realmente alcançou o mundo inteiro, também graças aos recursos digitais. Publicamos alguns artigos sobre isso em nosso site, clonline.org, também com vídeos de diversos encontros, dos quais destacamos a colocação de Julián Carrón, presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação, com o tema: “De onde nasce a esperança?”. Diálogo no qual, a certa altura, emergiu uma expressão de Dom Giussani que sintetiza bem o que está em jogo: “A esperança é uma certeza no futuro em virtude de uma realidade presente”. O que é preciso para crescer. E para viver.

Na segunda parte desta edição, encontros com três pessoas que também carregam sinais de esperança. Dos Estados Unidos, um diálogo com Daryl Davis, o músico negro que se tornou amigo do Ku Klux Klan. No Brasil, um bate papo com a cantora Mônica Salmaso, que com o projeto “Ô de Casas” iniciado exatamente nestes meses de pandemia, oferece a todos verdadeiras joias musicais em curtos vídeos de encontros virtuais com diversos convidados muito talentosos. Por fim, a notícia da beatificação do menino Carlo Acutis, falecido em 2006, aos 15 anos. O milagre que lhe foi reconhecido vem do Mato Grosso. Conheça um pouco mais deste amigo dos brasileiros.