Passos N. 229, Outubro 2020

O espetáculo

Não há espetáculo maior do que ver uma humanidade que floresce. Claro, quase sempre acontece como algo subjugado, oculto. Você cresce aos poucos, passo a passo, quase sem perceber. E é um caminho que, com algumas exceções, se dá longe dos grandes cenários e dos holofotes. Mas em algum momento isso fica evidente. Quando você se encontra na frente de uma pessoa que está amadurecendo – e não é necessariamente uma questão de idade –, você vê. Ela se impõe. Ainda mais numa situação difícil como a que vivemos há meses, que parece intencionalmente para nos assustar, para bloquear qualquer iniciativa e fazer desaparecer no nada qualquer ímpeto.

Bem, nestas semanas tão instáveis, entre as ondas da pandemia e as tentativas de retomada das atividades, vimos muita gente assim, sem medo e portanto em ação. Sobretudo no Meeting de Rímini, o grande festival de cultura do verão europeu, sobre o qual já falamos nos meses anteriores, mas ao qual decidimos voltar justamente para aprofundar aquela dinâmica inesperada que tem permitido a centenas de homens e mulheres em todo o mundo darem espaço a uma criatividade impensável: dos organizadores aos convidados, dos que estiveram ajudando em Rímini aos que acompanharam tudo nas dezenas de praças pelo mundo. Uma cadeia de movimentos surpreendentes, mas principalmente uma série de “eus” que tomaram a iniciativa, sem se deixarem deter pelas dificuldades. O que permitiu isso? Qual é a origem desses movimentos?

Este é o mesmo ponto que marca também o restante desta edição. Desde os testemunhos das cartas até o relato que chega dos Estados Unidos, onde se vive uma vigília eleitoral dramática como nunca antes ocorreu. Passando pela história traçada nos Percursos (a segunda parte da Revista) na esteira de acontecimentos e episódios que ocorreram nas últimas semanas em lugares muito diversos, mas unidos por um fato: há gente trabalhando, vidas em que o niilismo não vence, aquela névoa tortuosa que envolve nossas horas de vazio e desconfiança (“Será que vale a pena? Qual é a utilidade?”), mas vence a realidade. Uma realidade vivida “intensamente”, para usar uma expressão cara a Dom Giussani, o fundador de Comunhão e Libertação, porque nela emerge gradualmente – até que prevaleça – algo de outro. A verdadeira aventura, então, passa a ser conhecer cada vez mais esse outro. E estar disponível a segui-lo, a deixar-se mudar. Porque é isso o que faz o humano florescer.