Passos N.233, Março 2021

Gerados agora

Um ano após o início da pandemia, os dados que falam do sofrimento de crianças e jovens são alarmantes. Mas e se os dados sobre os adultos fossem publicados? O negacionismo hoje significaria reduzir o problema educacional às salas de aula e aos métodos de ensino, porque a grande provação que atinge os jovens diz respeito a todos.
O sentido da expressão “Geração Covid”, que virou moda, depende de cada um: se é o surgimento de uma geração traumatizada pelas limitações, por um tempo “perdido”, ou se é a grande oportunidade para verificar o que é capaz de gerar o desejo de viver.

“O que podemos fazer?” Não há pergunta mais compreensível hoje, especialmente se for feita por um pai. Mas a resposta é clara: “O sentido da vida não é transmitido com o DNA”, e o problema é principalmente nosso, e é “o medo profundo de que tudo acabe em nada”. É a resposta de Julián Carrón no encontro de 30 de janeiro, “Crescer e ajudar a crescer em tempo de pandemia”, nascido a partir da carta de alguns professores de CL ao jornal italiano Corriere della Sera e do seu livro Educação, comunicação de si, contribuição ao “Pacto Educativo” desejado pelo Papa Francisco para aquela que ele define “uma catástrofe educacional”, diante da qual “não se pode ficar inerte”.

Mas o que não nos deixa inertes? Quando todos os esforços estão derrotados já de início, a questão é percorrer um caminho em primeira pessoa. “Em uma sociedade como a nossa, não se pode criar algo novo, senão com a vida”, já dizia em 1978 o fundador de Comunhão e Libertação, Dom Luigi Giussani: “Nenhuma estrutura, organização ou iniciativa é capaz disto. Somente uma vida diferente e nova é capaz de revolucionar estruturas, iniciativas, relações; enfim, tudo”.

Neste número você encontrará histórias do Quênia e de Barcelona, e também a abertura de um centro em Brasília, como exemplos de quem comunica o que as sustenta e responde a essa urgência de sentido, para si e para o outro, que ultrapassa os confins das salas de aula, das geografias, do tipo de trabalho, da idade e das condições. Afinal, educa-se com tudo, no jeito de trabalhar ou de voltar para casa, no modo de viver uma dor ou assistir a um filme.

A educação sempre acontece contra o vento, dizia-se nesse tempo. Mas algo precisa subir mais forte que o vento: na apatia, só nos move quem entra em diálogo com a nossa necessidade profunda de ser amados. Como Antônio, que começou a ensinar com mais de cinquenta anos, exatamente um mês antes de começar a pandemia. As dificuldades foram muitas, mas no encontro de 30 de janeiro – disponível neste link do canal YouTube de CL – ele contou a surpreendente relação que aconteceu com seus alunos: foram atingidos pelo olhar que ele recebeu em vida, encontrando pessoas cristãs. “Se não tivermos sido olhados de uma maneira verdadeira, não poderemos olhar para os outros de uma maneira verdadeira”, concluía Carrón naquela noite: “Aliás, se não formos olhados agora! Gerados agora”.