Passos N. 239, setembro 2021

Ver o grito

“Diga-me uma coisa, garota, você é feliz neste mundo moderno ou precisa de algo mais? Há algo que está buscando?”. A sinceridade tocante de Lady Gaga nesta sua famosa canção, Shallow, ressoou no Meeting de Rímini, revelando a raiz de todas as demais interrogações que vinham à tona nos encontros e nas mostras: das maneiras mais diversas, a semana de eventos culturais, ocorrida no final de agosto, foi uma janela para o momento histórico em que vivemos, que não silencia, mas faz explodir as perguntas mais incômodas e verdadeiras.

Nas mostras era evidente: justamente quando o eu parece coberto pela amargura do mundo, ele aparece em sua potência. Com a sede de um amor escondido que perpassa algumas séries de TV, com a força da nostalgia de Pasolini ou a realeza das mulheres ugandesas, que se sentiram sujas por anos e agora se mostram com suas perguntas comovidas: “E a vida, quem pode dar a vida? Quem pode fazer viver neste momento?”. São mais que perguntas: é o grito da humanidade necessitada que temos e que vemos ao nosso redor.

“Diga-me uma coisa, garoto, você não está cansado de tentar preencher esse vazio?”. Mas o que “pode desafiar o desejo de plenitude que está na espera que todos temos em nós?”, questionou Julián Carrón no “diálogo” com Lady Gaga na mostra Viver sem medo na era da incerteza: “A condição para que a vida seja realmente interessante é que o cristianismo seja um acontecimento que traga à vida uma intensidade que nenhum sucesso, nenhum trabalho e nenhuma afeição podem oferecer”. A fé ficaria fora da história e não poderia continuar fascinando-nos, se não tivesse a ver com a nossa necessidade mais verdadeira.

“Será que nós ainda acreditamos que a atração basta?”, concluiu Carrón. Nesta edição de Passos tentamos mostrar como é que o fato cristão dialoga com o mais profundo do humano: de Timothy Radcliffe aos testemunhos de diversas partes do mundo. Um tema muitas vezes expresso pelos artistas, que, com espírito maravilhado ou sofrido, nos aproximam do mistério do desejo que carregamos conosco. É como diz a expressão do cantor canadense Leonard Cohen: “Há uma rachadura em tudo, é assim que a luz entra”, expressão que foi citada também no Meeting de Rímini e que revela um olhar maravilhado, que ainda quer conhecer o que não sabe.

Na nossa capa, uma frase baseada no pensamento de Dom Giussani inspirou o tema que será abordado na Semana Passos, um momento de divulgação desta publicação, que neste ano terá diversos eventos on-line. Iniciativas que revelam esse olhar maravilhado pelo homem e por suas perguntas. Esperamos você. Divulgue e participe da Semana (www.cl.org.br/semanapassos).