Passos N. 242, dezembro 2021

Olhos que veem

As páginas iniciais dessa edição de dezembro contém os documentos que marcaram os passos destas semanas, após a renúncia do padre Julián Carrón ao cargo de Presidente da Fraternidade de CL: uma escolha feita «para favorecer que a mudança de condução a que somos chamados pelo Santo Padre transcorra com a liberdade que o processo exige». Seu gesto acelerou esse processo, em diálogo com o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e com a presidência interina de Davide Prosperi. Acima de tudo, tornou-se mais necessário do que nunca verificar a experiência “em primeira pessoa”, à qual Carrón nos convida. «Esperem um caminho, não um milagre que iluda as vossas responsabilidades, que anule o vosso esforço, que torne mecânica a vossa liberdade», dizia Dom Giussani em 1982.

O “Destaque” do número é um percurso dedicado ao desafio do conhecimento. A seguir, a introdução:

O contragolpe do que acontece é decisivo. Principalmente quando diz respeito ao significado da vida, e então não é mais suficiente permanecer na confusão crescente, na multiplicação das interpretações, em qualquer nível, pessoal e social.
Hoje, quando tudo é mais incerto e questionável, é possível conhecer com certeza? Para onde nos leva o desejo inextirpável pela verdade?
“Apenas uma vibração despertada por um fato ou um acontecimento nos permite vislumbrar a complexidade e a riqueza do que está acontecendo”, como lerão nas próximas páginas deste “Destaque”: um confronto com aqueles que, da ciência à informação, lidam cotidianamente com o desafio do conhecimento.
Abstratamente, gostaríamos de segurança blindada, como se os fatos devessem impor sua verdade sem nós. Mas, na realidade, somos atraídos por quem não desconfia da nossa capacidade de julgar e nos convida a um compromisso com toda a realidade. Procuramos o que abre nossos olhos para ver as coisas como elas são; um caminho que não rebaixa, mas exalta a liberdade e a liberta da dúvida sistemática, de estar à mercê de outros.
«Para poder conhecer as coisas é preciso amá-las», escreve o filósofo Costantino Esposito em O niilismo do nosso tempo: «Entretanto, esta dimensão afetiva não deve ser entendida como um acréscimo "sentimental" ou como uma emoção subjetiva com relação à fria constatação dos dados objetivos da realidade. Pelo contrário, essa afeição constitui a motivação implícita em cada um dos nossos atos cognitivos, uma abertura da nossa mente que busca o significado das coisas. Podemos descrevê-la como uma "atração" que a realidade – as coisas, as pessoas, a natureza, os eventos – sempre exerce sobre o nosso eu, chamando-o e desafiando-o em uma jornada de descoberta. Mas a pergunta não é automática, porque tem a ver com a nossa liberdade»
(Alessandra Stoppa).