Passos N. 244, Março 2022

Cem vezes mais

Com esta edição de Passos vamos começar a acompanhar o início do centenário de nascimento de Dom Luigi Giussani (1922-2005), o fundador do Movimento Comunhão e Libertação. Com essas palavras ele descreve o afeto que sustentou toda a sua vida: “Cristo deparou com minha vida, minha vida deparou com Cristo justamente para eu aprender a entender como é que Ele é o ponto nevrálgico de tudo, de toda a minha vida. Cristo é a vida da minha vida. N’Ele se concentra tudo o que eu queria, tudo o que eu procuro, tudo o que eu sacrifico, tudo o que em mim evolui por amor das pessoas com quem Ele me pôs.”

Foi o fato de Cristo que comoveu sua razão desde menino, que invadiu seu coração quando subia os degraus do Liceu Berchet de Milão, o primeiro colégio de ensino médio no qual lecionou, para que aqueles jovens pudessem aprender um método com que julgar tudo e serem livres. E plasmou a sua obsessão – “não viver inutilmente” – numa fecundidade para todos, num ímpeto de vida que nele não foi força de vontade ou temperamento, mas satisfação.

“Não há estrutura nem organização ou iniciativas que resistam”, dizia; a única coisa capaz de mudar o homem e o mundo é “uma vida diferente e nova”. E da consciência do dom que penetrara sua vida cresceu uma história grande, complexa, cheia de limites e de beleza, até nos lugares mais distantes, seguindo caminhos imprevisíveis: uma história tão “não sua” que, como disse em 1987, o preenchia de “um maravilhamento ainda maior do que o do próprio início”. Cem vezes mais.

Por isso, sua proposta desafia a vida, pois qualquer um pode submetê-la à verificação do cêntuplo prometido por Cristo. É um convite incessante a partirmos da experiência. Nada podia demovê-lo de querer recuperar o cristianismo em sua natureza de acontecimento, presente, e digno da espera infalível do coração. “Num mundo fragmentado”, em que “se dão respostas antes mesmo de fazer as perguntas, ele retorna à pergunta”, como disse o núncio dos Estados Unidos Christophe Pierre no diálogo que abre a revista. A insistência de Giussani em não separar a razão da experiência, o sentido da vida da existência concreta, impacta na base o nosso tempo, que acredita em tudo e em nada ao mesmo tempo.

Todo ideal é julgado implacavelmente pela passagem do tempo, diminui ou se realiza ao confrontar-se com toda e qualquer situação histórica. O ideal vivido por Giussani ou vive no presente ou não existe. Então, como é que essa “vida diferente e nova” é experiência hoje? Perguntamos a quem o encontrou, das mais diversas formas, mesmo sem nunca tê-lo conhecido pessoalmente. Ao longo deste ano, vamos documentar na revista e numa sessão especial no site do Movimento tudo o que for acontecer, por meio dos testemunhos e das contribuições de todos.

Por isso queremos repropor as perguntas com que Julián Carrón, nos últimos Exercícios da Fraternidade de CL, nos convidou a olhar para o centenário: “Não nos interessa a comemoração em si, a não ser por um motivo essencial: testemunhar o que Dom Giussani gerou em nós. O que Dom Giussani tem a ver com os muitos desafios que temos de enfrentar? O que a sua paternidade gera hoje?”