Passos N. 245, Abril 2022

Que tipo de educação?

“Morremos aos quarenta de uma bala disparada no coração aos vinte”. A frase impiedosa de Albert Camus seria talvez mais precoce hoje, com uma bala disparada aos 17, 15, 12 anos de idade. Fala-se muito de jovens e adolescentes, que saem às praças ou ficam presos em seus quartos, que têm medo da solidão ou de estarem juntos novamente. Fala-se deles com preocupação porque trazem os sinais deste tempo sofrido: sintomas e expressões – às vezes conflitantes, às vezes agudos, até a emergência psíquica – de quê?

É enganoso reduzir o problema à pandemia, mas não é suficiente repetir o que de fato revelou algo antes abafado, uma percepção diária do vazio. É um vazio que dispara contra o peito, aniquilando o desejo de plenitude, apagado mesmo no coração mais jovem. “O eu tem sede de eternidade, o eu é relação com o Infinito”, diz Giussani em Dar a vida pela obra de Outro: “E sem essa sede, tudo seria opaco, obscuro ou insuportável nulidade”. É quando a sede se apaga que tudo se torna impossível de viver.

E ninguém se desperta por conta própria. É por isso que todos somos interrogados por uma situação em que emerge um forte mal-estar e, ao mesmo tempo, a surpresa quando se encontra um adulto que olha para isso sem medo.

Assim, o que brilha ajuda a colocar em foco a profundidade do desafio, a necessidade de alguém com quem é desejável arriscar, percorrer um trecho da estrada, porque ele vive em sua pele e em seus dias uma promessa cumprida. Adultos conscientes de que já existe tudo no germinar daquele espaço que acontece durante uma aula em classe, em um Zoom, em estudar juntos à tarde, em um diálogo no meio do ofício. Nestas páginas estão fatos aparentemente minúsculos, dos quais a grande mídia não fala, mas são momentos muito potentes nos quais há um coração que vive e se descobre a si mesmo. E há lugares que, com o tempo – de uma forma que não é mecânica, nem em termos de capacidade – vão diretamente a esse desejo sob as cinzas.

Voltamos a falar de educação – que também foi o tema de trabalho da Campanha da Fraternidade deste ano – porque nunca deixamos de nos surpreender de que seja uma educação do humano: do que é original, incandescente, indestrutível, na alma. A educação é um fato e por isso queríamos ver como ela acontece: em situações extremas ou mais comuns, há apenas um detonador no coração, que é um encontro, uma relação viva que tem a força de fazer uma brecha nela. Para despertar o “eu”, o centro de tudo, “o que de inexoravelmente maior há no homem”, continua Giussani: “O homem como pessoa, cujo menor pensamento vale mais do que todo o universo”.