Passos N. 251, Outubro 2022

Agora

“O instante, desde então, não foi mais banalidade para mim”. Assim Luigi Giussani definiu o momento decisivo de sua vida quando era um jovem seminarista no início do ensino médio e “o belo dia” aconteceu para ele. O relato do episódio marca esta edição, que sai no mês de seu nascimento: 15 de outubro, de cem anos atrás.

O anúncio cristão chegou a ele como a única resposta à altura do imenso anseio pelo infinito que ele carregava: aquele mistério de si mesmo, que, embora tão jovem, ele percebia de forma intensa, a ponto de sentir como seu melhor amigo um homem que tinha vivido duzentos anos antes: o poeta Giacomo Leopardi. Durante um mês, ele mergulhou literalmente em suas poesias, chegando ao ponto de defini-lo como “o companheiro mais sugestivo do meu itinerário religioso”. Se Giussani não tivesse sentido, em toda a sua urgência, em toda a sua profundidade, a espera que constituía seu coração, ele não teria reconhecido e amado Cristo como a presença mais importante para si mesmo e para o mundo.

O encontro, entre sua humanidade e Cristo, marcou o início e todo o desenrolar da história que Deus realizou nele, em seu pensamento, em seu apostolado, fazendo dele um testemunho das palavras de João Paulo II: “Não haverá fidelidade, se no coração do homem não se encontrar uma pergunta para a qual só Deus é a resposta”. Giussani amou apaixonadamente a seriedade da pergunta humana. Aquela pergunta que, dizia ele, “é esquecida no acúmulo dos minutos e das horas do dia! Como nós nos afastamos de nós mesmos durante o curso do caminho do nosso tempo!”. E acrescentou: “Para não ‘se esquecer’, é necessário que a resposta seja presente”.

Para muitas, muitíssimas pessoas, o “belo dia” aconteceu ao se depararem com a vida de Giussani investida por esse fato. Pelo modo como ele enfrentava a realidade, mostrou a todos o que é o cristianismo: um acontecimento. “Vós sabeis como a experiência do encontro era importante para o padre Giussani”, disse o Papa Francisco durante a Audiência com o Movimento em 2015: “O encontro não com uma ideia, mas com uma Pessoa, com Jesus Cristo”. Por isso propomos alguns trechos de seus escritos que documentam a intensidade com a qual Giussani, em virtude desta relação, vivia o instante, mesmo nos momentos mais cotidianos: este “agora” que cabe a cada um de nós.

Encontrarão, também, alguns testemunhos daqueles que, alcançados por sua experiência de fé, começaram a crer em Cristo de forma persuasiva: mesmo já sendo teólogos ou estando distantes da Igreja. Pessoas que, hoje, vivem e atraem outras “a descobrirem – ou a verem com maior facilidade – como Cristo é presença”. Nós “existimos só para isso”, nos lembrou Davide Prosperi na carta de convite à Audiência com o Santo Padre de 15 de outubro, para a qual nos preparamos tomando consciência do dom que recebemos através da vida de Dom Giussani. E “continuando a mendigar, antes de tudo para nós mesmos, Aquele único que pode satisfazer a sede do coração do homem: Jesus de Nazaré”.