Passos N. 254, jan/fevereiro 2023

O verdadeiro rosto

Cultura, caridade e missão. De acordo com Dom Giussani, são as três “dimensões fundamentais” de uma experiência cristã autêntica, de uma vida em plenitude. São as dimensões de qualquer gesto, para que seja verdadeiramente humano. Estas três “modalidades” representam para ele uma “questão de vida ou morte para o próprio gesto”, como escreveu em O caminho para a verdade é uma experiência: são o “rosto verdadeiro” de toda e qualquer expressão, para que seja vivida em seu sentido último e assim expresse uma concepção da vida, realize a lei suprema da existência, que é o amor, e se abra para a relação com todos. Sem esquemas.

Não se trata de “consequências práticas”, mas fazem parte mesmo do acontecimento de Cristo, que reveste a vida. “A missão é sinal de uma presença amorosa”, diz Marta na edição deste mês, ela que vive seu empenho na universidade como “um impulso: uma sucessão de impulsos que não surgem de uma capacidade, mas de um Amor que tomou a minha vida através de rostos e que age através da minha vida”.

Este número fala de sementes espalhadas pela terra, concreta e profunda, da existência partilhada com os demais, em todos os seus aspectos. Para abrir a edição trazemos uma conversa com Davide Prosperi, presidente da Fraternidade de CL. Ele falou no EncuentroMadrid, evento cultural espanhol, por ocasião do Centenário de nascimento de Dom Giussani que acabou de se encerrar. O ímpeto de vida que ele encarnou revive hoje em pessoas e lugares do mundo, onde a paixão por Cristo se torna paixão pelo homem, todo e qualquer homem, a partir delas mesmas para chegar a quem encontram.

Essa paixão se retrata na experiência de algumas caritativas: gestos muito simples, como levar comida a moradores de rua, em que se vai com a própria necessidade humana ao encontro da necessidade do outro. Não para prestar um serviço social, encontrar solução para os seus vícios, e muito menos converter as pessoas. Como diz Giussani em O sentido da caritativa, “justamente porque nós os amamos, não é a nossa ação que os torna felizes; de fato, nem mesmo a mais perfeita sociedade, ou a organização mais forte e sábia, nem a maior riqueza do mundo ou a saúde mais perfeita, nem mesmo a beleza mais pura ou a civilização mais aprimorada poderá torná-los felizes. Somente Outro poderá torná-los felizes”.

A própria cultura, para Dom Giussani, nunca estará separada desta consciência, nunca será intelectualismo: “A racionalidade que salva o universo do absurdo é uma pessoa: Jesus Cristo”. E assim “a verdadeira dimensão cultural cristã se concretiza no confronto entre a verdade da Sua pessoa e a nossa vida, em todas as suas implicações”.