Serra do Rola-Moça. Ibirité, MG, 2024. © Foto: Kika Antunes

Passos N. 269, Setembro/Outubro 2024

O antipoder

“Eu me importo com a minha liberdade”. Foi assim que a voz de Dom Giussani ressoou, há quarenta anos, no Meeting de Rímini, um evento cultural do verão europeu: “A liberdade é inegociável: não existe pessoa, não existe eu, a não ser na liberdade”. Nossa época sabe o quanto isso é verdade. Não há ideal mais difundido. Ao mesmo tempo, não há experiência mais rara. Tudo é em nome da liberdade, mas a liberdade corre o risco de ser um mero nome: nas ilusões ideológicas que a afirmam como uma ruptura com o passado, uma ausência de vínculos e de verdade, no próprio medo que se tem da liberdade, ou na amarga inquietação que nos assalta quando somos livres para fazer o que quisermos e isso não nos satisfaz.

Dom Giussani aborda o tema com a radicalidade existencial de quem sabe que, por mais incompreendida que seja, ela é indispensável porque o homem é feito liberdade, “o mistério dos mistérios”. Mas quando é que nos sentimos livres? – pergunta ele em O senso religioso, para nos levar ao cerne da questão: quando é que somos verdadeiramente nós mesmos? Desafiando todas as reduções, o sacerdote diz que a liberdade é a satisfação total do desejo ilimitado que somos, “a liberdade é a experiência da verdade de si mesmo”.
“O que eu sou, é exatamente isso que eu quero ser.” Nesta edição, você encontrará essas palavras que datam de 180 d.C., o documento mais antigo da literatura cristã latina, e são de uma mulher, uma mártir da fé. E também encontrará algumas contribuições sobre o caminho da liberdade em situações extremas, enfrentando o drama do que torna alguém livre, que é possível todos os dias para todos. E permite enfrentar o tema da política e das próximas eleições municipais com interesse e protagonismo.

Para Giussani, mesmo que o universo inteiro seja lançado sobre ele, o homem é maior. Essa dignidade absoluta é toda revelada no olhar de Jesus, cheio de paixão pela pessoa: “O que importa se você conseguir tudo o que quer e depois se perder? Ou o que o homem dará em troca de si mesmo?”. E Giussani acrescenta: “O antipoder é o amor”.
Portanto, “aqui está o paradoxo”, é um amor, um vínculo, que torna a pessoa livre: “A liberdade é depender de Deus”. É um paradoxo, mas muito claro. O homem – o homem concreto, eu, você – não existia, agora existe, amanhã não existirá mais: portanto, ele depende”. Só há uma dependência que salva a liberdade, só há “um limite à ditadura do homem sobre o homem”, para Dom Giussani: a religiosidade vivida. Ou o homem tem um relacionamento direto com Deus e é livre diante de tudo, ou é escravo de tudo.