Passos N.40, Junho 2003

Educar para vencer o medo

A série mortífera e dolorosa de atentados terroristas que está afetando diversos países do mundo é um fenômeno desorientador. O uso da violência de modo cego e, ao mesmo tempo, bem estudado, é uma derivação do ódio, que sempre vê o outro como um inimigo. Nenhuma causa nem qualquer política (menos ainda religiosa) pode servir de justificativa para essa frieza assassina. Vivemos todos no medo: um avião que passa por sobre nossas cabeças já é motivo para tétricos agouros.

Quem cultiva e arma os camicases deseja, de fato, espalhar esse sentimento de insegurança. É uma louca e bem pensada estratégia. Em meio ao medo e ao terror, a vida se paralisa, os relacionamentos são quebrados. E as dificuldades, em vez de tenderem à composição, se exasperam. Povos inteiros são lançados nesse clima de terror, como o demonstram os noticiários dos últimos meses. Trata-se de uma guerra complexa, da qual nada de bom se pode esperar.

Nessa situação, a pior coisa é a irresponsabilidade; de todos, nossa, inclusive, sem excluir a dos chefes de Estado, dos organismos internacionais e das lideranças políticas em diversos níveis. Ceder à lógica da divisão e dos alinhamentos, da esquematização maniqueísta entre bons e maus é um amargo fruto da irresponsabilidade geral. A política como arte da negociação poderia, neste tenso momento, apresentar-se como a via realista para a busca de instrumentos eficazes visando à solução pacífica dos problemas.
Mas nem sequer nós, que não somos chefes, temos o direito de ceder à irresponsabilidade. Cada um, como sempre tem lembrado o Papa - verdadeiro farol de esperança no mundo -, tem uma tarefa importante: rezar a Deus e buscar a conversão do coração.
Porque a política é capaz de erguer diques de contenção, de organizar e coordenar. Mas a verdadeira batalha para desbancar a lógica do ódio e do medo se chama “educação”.
De fato, o medo nasce de diversas formas e por vários motivos. Mas sempre encontrará espaço livre naquele espírito que T.S. Elliot chama de “deserto e vazio”, esse deserto que vaga também “nos apertados vagões do metrô”.

A educação é uma energia de construção e de recomeço, a ser oposta ao deserto que toma conta da vida quando esta se reduz a insignificante passatempo, tornando possível, então, qualquer sonho de dominação. Em 1987, padre Giussani falou de um “efeito Chernobyl”, que nos atinge a todos como resultado de uma redução dos desejos do eu, operada pelo poder. Por isso, a educação dá início à insurreição do humano, como consciência de que a vida de cada um é constituída pela relação com o Infinito, e que nessa relação está o motivo do seu valor e a indicação do seu destino. A positividade, como lei da ação pessoal e social, se expressa em pessoas e povos nos quais está viva uma tradição, uma transmissão crítica de uma experiência humana e do seu objetivo, no qual o desejo encontra a sua fonte e a sua resposta positiva.
Por isso nos sentimos responsáveis nessa luta em meio ao deserto.