Passos N.53, Agosto 2004

Para a realização do homem


“Se você quer construir um navio, deve ensinar aos homens a saudade do mar amplo e infinito”, dizia Saint-Exupéry. Não é preciso citar o abismo cultural que separa essa concepção de trabalho da que se vive hoje nas grandes cidades. Mas um cristão que se depara com essa diferença imediatamente se coloca em ação para compartilhar a experiência de viver o trabalho como “o aspecto mais árido e concreto do amor a Cristo”, ou seja, como o lugar que faz pensar no amor a Cristo, em como se vive e na utilidade da nossa vida.

A frase de Saint-Exupéry foi citada por Raffaelo Vignali, presidente da Companhia das Obras na Itália, em sua visita ao Brasil.Vignali visitou as obras sociais desenvolvidas em diversas cidades com a colaboração da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI). E encontrou profissionais com uma paixão educativa e um gosto pela vida, que ajudam a introduzir na realidade de inúmeras pessoas a idéia de gratuidade, beleza e desejo de verdade, fundamentais para a realização do homem, mas sistematicamente deixadas em segundo plano pela cultura dominante.

No Rio de Janeiro, o cardeal dom Eugênio Sales, em carta ao novo Bispo de Petrópolis, também agradeceu pela presença de pessoas assim na cidade, pessoas não movidas por regras, mas pela tensão ao infinito. Em São Paulo, assistimos com gratidão ao trabalho desenvolvido pela Companhia das Obras em Ermelino Matarazzo – ali, as obras começaram a pedido de pessoas que, ao encontrar o carisma de padre Giussani, ficaram fascinadas com a chance de viver uma unidade entre a fé e a vida.

Assim, em seu ambiente de trabalho, o cristão não tem pretensões de mudar o mundo todo, mas colabora com o Criador realizando o que lhe é pedido: constrói o barco pensando no mar infinito. Por esse motivo, a tradição católica nunca se preocupou somente em qualificar as pessoas profissionalmente, mas, sobretudo, preocupa-se em educar ao trabalho abrindo o coração e a inteligência do homem à realidade inteira. Pois a Igreja, mais do que ninguém, deseja que todos os homens, independentemente da situação em que se encontram, possam “avançar para águas mais profundas”.