Passos N.85, Agosto 2007

A inserção do eterno no tempo

Desde sempre o homem buscou algo que cumprisse a tensão positiva que há nele e que contrastasse com o nada no qual parece terminar. Isso se demonstra desde as primeiras pinturas rupestres até as evoluídas composições em versos e música. Procurou inventar gestos, ritos e obras que chamassem a vida à vida, por assim dizer; que fossem momento e espaço onde algo se opusesse ao petrificar-se da existência, que evocasse o ímpeto de vida que está no coração de cada homem, mesmo nas estações desfavoráveis que sucedem as floridas e ricas. O homem de todos os tempos inventou de tudo para obedecer à urgência que o marca e o fere no fundo para propor a si mesmo e ao próprio povo ações que não deixassem diminuir a esperança de um fim bom. O espetáculo dessas tentativas contínuas é vasto, dramático e comovente.

O trabalho mais importante do homem sempre foi o de buscar o caminho para sustentar tal esperança. Junto com o trabalho para conseguir comida, para proteger os entes queridos e para desenvolver as próprias habilidades não poderia faltar aquele que podemos chamar de “trabalho da esperança”, sem o qual todos os outros, a curto ou longo prazo, pareceriam vãos. Não há dia sem que se identifique em alguma coisa ou em alguém o ponto de retomada da positividade da vida. Pode ser a presença passageira de um amigo, um bom resultado no trabalho, um sinal no caminho.

O cristianismo levou tudo isso a sério. Jesus Cristo, como diz Charles Péguy, não veio para contar histórias fora do comum. Mas veio para responder a essa eterna, ansiosa e vasta busca dos homens. Levou a sério nosso desejo de vida e de ver a vida vencer. E, como diz muitas vezes o Evangelho, teve compaixão deste nada que somos a ponto de tornar-se nosso amigo. Sabia bem, como todos sabemos, que nenhuma realidade deste mundo – nem sucesso, nem amigos, nem capacidades – pode evitar que a vida conheça o desespero da perda, da falta de sentido. Nenhuma invenção deste ser limitado que é o eu pode doar ao homem o segredo da vida, o infinito sempre desejado. Foi necessária a inserção do eterno no tempo para que os dias experimentassem o gosto de viver. Foi necessário o acontecimento de Deus que se torna disponível, e disponível até o sacrifício de si, para que o homem encontrasse o ponto de retomada contínua que não se exaure e não é eliminado por nenhum limite, defeito ou maldade. O coração é feito para encontrar tal ponto de vitória. Por isso, o Papa não se cansa da falar da fé como uma coisa simples. Todos podem conhecer seu conteúdo e método por meio de um encontro, por meio de uma experiência: “Ouvindo-o pregar, vendo-o curar os doentes, evangelizar os pequeninos e os pobres e reconciliar os pecadores, gradualmente os discípulos conseguiram compreender que Ele era o Messias, no sentido mais elevado deste termo, ou seja, não apenas um homem enviado por Deus, mas o próprio Deus que se fez homem” (Homilia durante a solenidade de São Pedro e São Paulo, 29 de junho de 2007).

Hoje, como há dois mil anos, o método não mudou. Um estudante do Ensino Médio, entre os muitos que descobriram a fé por meio do encontro com os colegiais de CL, disse, em uma frase, o sentido de tudo o que lhe aconteceu. E que é o sentido de toda aventura humana: “Estes três anos me fizeram compreender que o Movimento não existe para aplicar conceitos à vida ou para “regulamentar” o cotidiano, mas para nos chamar a atenção àquelas exigências que nos constituem e que nos tornam homens. Só há um método para testemunhar Cristo na escola: empenhar-se com a própria humanidade”.