Passos N.92, Abril 2008

Um Fato que Abraça Tudo

Antes de tudo, há o fato. Imponente. Cinquenta mil pessoas na praça da Catedral de São Paulo, onde o Cardeal Odilo Scherer abriu as portas para evitar que ficassem sob um dilúvio. Cinqüenta mil rostos, corações, histórias. Um Movimento: a Associação dos Trabalhadores Sem Terra. Com os seus responsáveis, Cleuza e Marcos Zerbini. Que naquela Catedral, domingo, 24 de fevereiro, entregaram a si mesmos e sua história nas mãos de um outro: “Padre Carrón, encontrando Comunhão e Libertação, encontramos tudo o que precisávamos encontrar”.
As mesmas palavras que Cleuza disse em La Thuile, abalada por aquele “até os fios de vosso cabelo estão todos contados” com que foi aberta a Assembléia de Responsáveis de CL: “Marcos, aqui dentro tem tudo. Podemos voltar ao Brasil”. As mesmas palavras que, antes e depois do encontro na Catedral, muitas, muitíssimas daquelas cinqüenta mil pessoas diriam diretamente a padre Julián Carrón, comovido e feliz, “pequeno e indigno” mas “sem medo, porque Aquele que começou, entre nós, esta obra boa, a levará à realização”.

A imponência do fato, portanto. Que deixa sem fôlego, como acontece quando é evidente que um Outro está realizando a história. Mas também, dentro do fato, a certeza do testemunho. A profundidade absoluta do juízo. Daquele “tudo” não como uma maneira de dizer, como acontece conosco tantas vezes, mas seriamente, com uma consciência plena. “Encontramos tudo aquilo de que precisávamos”. Tudo. Porque Cristo abraça realmente tudo e a fé torna-se realmente critério com o qual enfrentar e conhecer tudo: a vida, os desejos, as esperas, o empenho, a política. “As lágrimas de vinte anos de luta para a construção de casas e de todo o nosso Movimento”, como disse Cleuza. Tudo. Não há necessidade de mais nada. E nada fica fora desse encontro. A ponto de entregar nas Suas mãos a si mesmo e a obra enorme, grandiosa que está construindo. Vinte anos de história e cinquenta mil amigos.

Diante daquele fato, não existem conclusões tiradas mecanicamente. Nenhuma regra a ser aplicada. Somente maravilha e pedido. E gratidão por testemunhas assim, que nos fazem conhecer Cristo. O Fato que preenche a história.