Passos N.93, Maio 2008

A personalização da experiência

Em 8 de março de 2008, padre Julián Carrón foi reconduzido à presidência da Fraternidade de CL. Na ocasião, suas palavras foram um convite para que todos vivessem a personalização da vida do Movimento, isto é, perceber que o “Movimento nasce na minha pessoa, é a minha vida que está em jogo” (Dom Giussani). Padre Carrón convida todos nós a vivermos uma experiência eclesial onde percebemos que “o que nos é mais caro no cristianismo é o próprio Cristo. Ele mesmo e tudo que d’Ele vem, porque sabemos que n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (V. Soloviev).
Nesse caminho, o grande desafio que temos pela frente é o desafio educativo: “O objetivo da comunidade é gerar [educar] adultos na fé” (Dom Giussani). A dificuldade de hoje é encontrar espaços na vida da Igreja em que possa ser realizado um percurso educativo que realmente permita a geração de um adulto.
Ao contrário do que pensa a mentalidade moderna – inclusive aquela que está muitas vezes dentro de nós – a companhia [o Movimento, a comunidade cristã] é justamente o lugar onde somos educados a nos tornarmos pessoas, a compreender todo o sentido, toda a profundidade e o verdadeiro destino do nosso “eu”. Mas, sem dúvida, não é qualquer companhia que nos ajuda nessa missão, ela nos ajuda quando é feita de “pessoas voltadas para a verdade” (Dom Giussani).
Essa companhia de “pessoas voltadas para a verdade” não nasce de uma idéia ou de uma análise, mas de um fato e do reconhecimento desse fato. Daí nasce uma comunhão onde Cristo se torna presente, se tona nosso contemporâneo, e não só alguém que viveu há 2000 anos atrás. Em nosso percurso educativo, vemos os sinais de Sua contemporaneidade por intermédio das testemunhas (cf. Giussani, L., É possível viver assim?, São Paulo, Companhia Ilimitada, 2008, pp. 21ss). Cada um de nós sabe muito bem que, sem isso, não é possível uma novidade. E quem é a testemunha? Aquela pessoa que faz Cristo presente para mim de maneira mais persuasiva, quem quer que seja ela.
A testemunha é a pessoa que expressa hoje, para nós, o que significa seguir o carisma; e a pergunta que surge diante dela é: estamos disponíveis a reconhecê-la? Não existe, em toda a nossa vida, uma tarefa mais importante para nós, que estamos aqui, do que ceder a isso.
Em “O maior sacrifício é dar a vida pela obra de um Outro”, Dom Giussani diz que a verdadeira questão é “a comparação com o carisma” (p. 6). Estamos aqui justamente para essa comparação última, porque temos a responsabilidade última pelo carisma, não porque sejamos melhores, mas porque fomos escolhidos.
Padre Carrón termina sua colocação nos interpelando: “Que conversão nos pede o carisma, hoje? Estamos diante de uma aventura fascinante, e a vida será cada vez mais para nós uma aventura fascinante, se aceitarmos ser continuamente regenerados pelo carisma, se cada vez mais desejarmos e pedirmos ao Espírito a graça de nos tornarmos filhos”.