Passos N.94, Junho 2008

Dizer “Tu” a Cristo

O que significa “dizer tu a Cristo”? Esta foi uma das perguntas que mais circularam nos pavilhões da Feira de Rímini, entre as vinte e seis mil pessoas a quem padre Carrón acabara de falar sobre “a vitória que vence o mundo: a nossa fé”.
Vinte e seis mil reunidos na Itália, mais todos aqueles que acompanharam via satélite, de 62 países, os Exercícios da Fraternidade deste ano. Todos estremecidos pela potência com a qual o Mistério age entre nós, como puderam ver no vídeo que mostrava o acontecimento do dia 24 de fevereiro, em São Paulo, com Cleuza e Marcos Zerbini que confiavam a Associação dos Trabalhadores Sem Terra a CL diante de cinqüenta mil pessoas. Fascinados pelo percurso que leva a razão a ir até o fundo, até “só tu tens palavras que explicam a vida”, que nos permite reconhecer o Mistério presente e, portanto, reconhecer realmente a realidade e nós mesmos. Surpresos pela perspectiva de que a esperança não é respondida na companhia cheia de humanidade que nos abraça todos os dias, mas num rosto preciso, com uma fisionomia “ultimamente singular, com traços inconfundíveis”. E comovidos por aquela imagem dada por Dom Giussani: um papel de carta simples, de açougueiro, pendurado no escritório de uma casa dos Memores Domini em Madri com apenas uma palavra dominando o espaço e o tempo: Tu.

É por isso que, entre as muitas perguntas, voltava frequentemente esta: o que significa “dizer tu a Cristo”?
Uma pergunta simples, quase desarmante e, ao mesmo tempo, cheia de fascínio. Porque revela toda a nossa fraqueza, o dualismo, a obstinação com a qual continuamos pensando em Cristo como algo à parte da realidade, de quem devemos imaginar rosto e forma (você alguma vez pensou em se perguntar “como faço para dizer ‘tu’ à minha mulher ou aos meus filhos”?).
Mas também carrega consigo a nossa força. A descoberta de uma perspectiva nova. De uma possibilidade de familiaridade com o Mistério que se apóia inteiramente na sua iniciativa. Na determinação apaixonada com a qual entra na nossa vida e se faz companheiro, contemporâneo. No sorriso paciente com o qual espera que brote o nosso sorriso, que floresça o nosso reconhecimento e, com ele, a nossa humanidade. Na graça. “Uma flor de graça que floresce no limite extremo da dinâmica da razão e à qual o homem adere com a sua liberdade”. Esta é a fé, como Carrón a descreveu em dado momento, retomando mais uma vez Dom Giussani.

Mas, para que essa flor cresça é necessário um trabalho. A Escola de Comunidade e o próprio livreto dos Exercícios da Fraternidade fazem parte de toda uma grande corrente de auxílio e instrumentos espalhados no caminho de cada dia. Mas também isso é graça, e não apenas como modo de dizer. Algo que existe, que lhe é dado e provoca continuamente a sua liberdade. Não é preciso imaginar nada. Apenas seguir. E assim, simplesmente, começar a dizer: “Tu”.