Passos N.96, Agosto 2008

Protagonistas num mundo de “Zés-ninguém”

Do outro lado do Atlântico, na Itália, cerca de 700 mil pessoas estarão se reunindo por uma semana, no Meeting de Rímini, o maior evento cultural do verão europeu, buscando compreender melhor o sentido da expressão “ou protagonista ou ninguém”. Tão longe dos olhos, tão perto do coração...

Quantas coisas estarão mais perto de nós, aqui no Brasil, que o desejo de sermos protagonistas de nossa história pessoal e coletiva? Em nossa terra, marcada pelo “você sabe com quem está falando?” de poucos e a sensação de ser um “zé-ninguém” de muitos, pela sensação de impotência diante dos escândalos de corrupção e das manipulações dos poderosos, ser protagonista parece um luxo de poucos.

Mas, pelo contrário, o protagonismo é algo que se encontra próximo, ao alcance de qualquer pessoa, pois não é o fruto da potência individual, mas é um dom que se recebe de um Outro, que nos criou para sermos de fato protagonistas em nossa vida. Não há verdadeiro protagonismo sem desejo e sem pertença.

O protagonismo não nasce do poder, pois quem se move a partir do próprio poder também está sendo definido pelo poder e não por sua vontade. Só encontramos o caminho do verdadeiro protagonismo na busca pela resposta radical ao desejo de nosso coração. Por isso, a dominação das consciências, em nossa sociedade, passa sempre pelo achatamento de nosso desejo, pela sua redução a desejos e necessidades parciais, manipuladas pelo poder.

Quem busca de coração sincero sempre encontra. E quem encontra não pode deixar de se apegar, de fazer a experiência de pertencer Àquele único que preenche realmente o coração. E é esse pertencer que faz com que o verdadeiro protagonista possa vencer todos os desafios e realizar sua própria humanidade.

Daí nasce um novo modo de viver, uma nova sociedade de protagonistas se reúnem e se alegram juntos, respondem a necessidades, constroem obras, transformam pouco a pouco toda a realidade na qual estão imersos. Toda essa edição de Passos é dedicada a mostrar o testemunho desses protagonistas – aliás, como todas as suas outras edições e qualquer edição de qualquer publicação que mostre o que é, realmente, a presença da Igreja no mundo.