O motivo da vida como trabalho

Palavra entre nós
Luigi Giussani

Notas de um diálogo de Luigi Giussani com um grupo de Noviços dos Memores Domini.
Milão, 15 de novembro de 1998



É a primeira vez, depois de muitos anos, que ouço cantar, cantar de novo, aqueles belíssimos "comentários bíblicos" feitos por padre Cocagnac, porque estes cantos podem ser pontos de meditação todas as vezes que o nosso ânimo estiver, de qualquer modo, sobrecarregado. Este canto é belíssimo 1: a Bíblia, a palavra de Deus, a atitude de Deus para com o homem está ali dentro, não no seu medo ou no seu temor ou na sua presunção, não no julgar o resultado daquilo que Deus faz com você porque o deixa na fraqueza que o faz errar e você fica humilhado por isto.

De qualquer modo, percebo um desconcerto no modo de estar diante da realidade, diante do próprio destino e, portanto, diante de Deus, um desconcerto no ânimo da maior parte das pessoas com as quais me deparo, na maior parte de vocês, quando entro num relacionamento e tomo consciência dele. E aquilo que me dá maior clareza ao olhar para vocês e ao tê-los presentes é que o superamos, por amor de Deus, pela graça de Deus, nós também na nossa vida. Por isso, falamos para vocês não para defender ou fazê-los escravos das nossas idéias, mas como homens, como homens como nós, segundo toda a riqueza que Deus deu ao homem.
Falar assim é como falar "idealmente" da vida. Mas falar idealmente da vida quer dizer identificar o objetivo da vida e a estrada para ir para ele, que de forma alguma é concebível ou imaginável por cada um de vocês, mas é dada: a salvação da nossa dissipação, da nossa contradição, da nossa falta de generosidade, a salvação disto nos é dada. Também esta. A vida nos é dada e nos é dado o perdão do mal feito na vida e nos é dada a reeleição, o renascimento: tudo nos é dado, porque Deus é tudo em tudo 2 e não há possibilidade de fazer objeção a esta fórmula que São Paulo usou, de modo nenhum (releiam os Exercícios da Fraternidade do ano passado 3, porque eu creio que seja a expressão mais avançada do nosso modo de conceber a vida, do nosso modo de sentir).
"Não há ideal – dizia Malraux – ao qual possamos nos sacrificar, porque de todos nós conhecemos a mentira [todos os homens são mentirosos: isto também a Bíblia nos diz claramente, e os Salmos 4 especialmente], nós que não sabemos o que é a verdade" 5.
Esta é uma declinação da alma de um homem qualquer hoje. Porque se um homem está apenas um pouquinho habituado a pensar em si mesmo, a perceber a si mesmo, e sendo levado intelectualmente a dar-se explicação de todas as coisas – de tantas coisas ou das coisas das quais sente o gosto ou a utilidade ou a necessidade, ou das coisas nas quais é obrigado a pensar – esta é exatamente uma frase que define o valor de todo o nosso discurso, porque nós também ainda não nos sacrificamos totalmente a um ideal. Porém nos sacrificamos: é a consciência da vocação no sentido cristão da palavra, como quer que seja entendida: verdadeiramente conscientes ou às cegas ou na tentativa de afirmar aquilo que percebemos no âmbito em que estamos (no seguir a companhia: seguir a companhia pode dar-nos a impressão de que nos sacrificamos a um ideal ).
Mas sacrificar-se a um ideal quer dizer sacrificar a vida àquele ideal, por isso, sacrificar aquilo que vem do instinto e aquilo que se deve fazer, sacrificá-lo cada dia, cada hora. Por isso a Bíblia, falando de Deus, se detém freqüentemente – especialmente no Deuteronômio, nos livros mais antigos – na necessidade do homem pensar em Deus estando em casa, saindo de casa... (como diz o sexto capítulo do Deuteronômio 6 ; e São Paulo retorna sempre a estes detalhes 7).
"Não há ideal ao qual possamos nos sacrificar [com o ideal, não temos relacionamento senão no sacrifício, porque o ideal quer dizer o sentido daquilo que fazemos, e o sentido daquilo que fazemos não podemos tê-lo senão sacrificando a modalidade com a qual fazemos (pensem no que estas coisas dizem a mim, velho: como elas evidenciam o rastejar de uma vida, todos os dias retomada de manhã mas rastejando, como quando se vai a um lugar onde há perigo, onde se teme ou onde não se quer ser vistos e se está ali, se passa ao largo)], porque nós conhecemos a mentira de todos [de todos: também a minha, também a sua, porque se não há esta consciência é falso também aquilo que você diz dos outros, brinca também com os outros, faz os outros de tolos]”. Lembro-me de como esta frase me fez pensar desde a primeira vez que a li: "porque nós conhecemos a mentira de todos, nós que não sabemos o que é a verdade".

Mas nós sabemos o que é a verdade! "Eu sou a verdade e a vida" 8 disse um homem, o único na história que disse isto. Nós conhecemos a verdade, mas também aqui carregamos toda a nossa mesquinhez ou todo o nosso equívoco: é como se faltasse à nossa vida aquele ímpeto – suscitado três vezes por dia, pela manhã, ao meio-dia e à tarde, quando se diz a oração (o Angelus, por exemplo) –, aquele ímpeto que ao meio-dia vem à tona do mar de neblina no qual esteve de manhã e à noite em comparação com a tarde.

De qualquer modo este trecho, ontem à noite, me fez pensar também no Salmo 8... Quando nós, lendo o breviário, a um certo ponto percebermos o coração e a cabeça escancarar-se e entender aquela palavra que dizemos, não será um dia nefasto, nem um dia feio da nossa vida ou fácil de esquecer, porque os salmos falam do homem, o homem "homem", com todos os seus sentimentos, em todas as ocasiões tão contraditórias, tão acavaladas (não há nada que tenha sido dito a nós ou que tenha sido pedido a nós para fazer que não tenha percutido e atravessado a nossa humanidade, mudado a nossa humanidade na verdade e na afeição, na inteligência e na afeição).
Releiamos o salmo oitavo:
"Iaweh, Senhor nosso,
quão poderoso é teu nome em toda a terra!
Ele divulga tua majestade sobre o céu
[a tua majestade se eleva além do visível].
Pela boca das crianças e bebês
tu o firmaste, qual fortaleza, contra os teus adversários
, [parece vão isto, porque a boca das crianças e dos bebês não percebe a luta que existe entre a palavra de Deus, a revelação de Deus, a presença de Deus e aquilo que aparece para elas (e não sabem que estas aparências são os adversários). Porém, é mantendo a boca da criança e do bebê que o homem grande entende Deus e a Sua potência na luta contra os adversários, porque a percebe em si (saber o que é o conhecimento é o problema fundamental da gnoseologia e da filosofia, de uma filosofia humana, porque o problema do conhecimento é o relacionamento entre si e a realidade: como se concebe o conhecimento, se concebe o relacionamento entre si e a realidade). Em suma, se poderia dizer: "Com a defesa da simplicidade na nossa maturidade, afirmas a tua potência contra os teus adversários"],
para reprimir o inimigo e o vingador.
Quando vejo o céu, obra dos teus dedos,
a lua e estrelas que fixaste,
que é um mortal,
[o que é o homem?] para dele te lembrares,
e um filho de Adão, que venhas visitá-lo?”.

Mas isto – desculpem – me pego dizendo-o todas as vezes que devo ir fazer gestos nos quais devo ser ajudado, porque quando se é velho é assim! Para a criança isto não é um sofrimento, um sacrifício pelo ideal, ou seja, pelo sentido daquilo que ela faz. "Não há ideal ao qual possamos nos sacrificar": não há sentido da vida que possamos surpreender, porque tudo aquilo que se diz na mentalidade moderna como tal é mentira.
E o fizeste [este homem] pouco menos do que um deus [pouco abaixo dos anjos: "dos anjos" é uma fórmula bíblica para dizer "manifestação de Deus". O anjo é a manifestação de Deus],
coroando-o de glória e beleza [de glória e honra: não apenas para os reis ou para os presidentes das repúblicas; não para os chefes de Estado Maior ou os professores universitários. Coroou de glória e honra cada eu: de glória na realidade que se modifica, na realidade que toma as suas formas, na evolução, e de honra (o faz perceber na sua dignidade e os outros devem olhá-lo de acordo com esta sua dignidade, pequeno e desfigurado como pode ser um homem). E por que, por que o fez assim? Por que o coroaste de glória e de honra?].
Para que domine as obras de tuas mãos [poder sobre a realidade, sobre o cosmos: esta é a intuição e a síntese de tudo aquilo que se pode dizer da história: "deu-lhe poder sobre a obra das tuas mãos", sobre a criação],
sob seus pés tudo colocaste”.
Vocês entendem de onde nasceu a degradação do homem? Daqui! O homem, percebendo-se feito com este poder degrada tudo, tende a degradar tudo: "Eu sou a medida de todas as coisas", dirão da razão, confundindo a razão com uma pretensão sua, com uma pretensão: "A ciência é contra a Igreja" (pelo contrário, a ciência é contra a Igreja quando não é ciência, mas preconceito que se descarrega sobre a realidade eclesial e sobre o que Deus diz).
Dentro deste salmo está a definição do homem como destinação, como sentido da sua vida (sentido da vida é o relacionamento com quem o cria: "Pela boca das crianças e bebês afirmas o teu poder").
Mas por que Deus dá valor ao gesto pequeno, ao instante que passa, quando o homem procura exprimir-se? Porque o homem é relacionamento com Ele. Dizíamos outras vezes que todo o cosmos chega a um certo ponto de evolução e de qualificação, no qual se torna autoconsciência 9: chama-se eu este ponto. O eu é a autoconsciência do mundo, do cosmos, de si. E então o cosmos, como é realmente, é a ordem do contexto no qual o relacionamento com Deus vive, o relacionamento com o Mistério vive.
Por isso, percebam que falar de trabalho é uma coisa verdadeiramente interessante se por trabalho entendemos aquilo que nós não podemos deixar de entender (e, no entanto, não entendemos nem um pouco, a maior parte de nós, todos os dias!). O trabalho é uma coisa grande, como a pequena realidade do homem que diz: "Senhor, o que é o homem para que Tu te lembres dele, te recordes dele?". Entre todos os animais e animaizinhos do cosmos o homem é um centésimo, um milionésimo, um décimo de milionésimo dos animais que existem em cada ambiente. Mas a grandeza do homem – a honra e a glória do homem – depende do fato de que o homem, cada homem em particular, é relacionamento com o infinito; e para viver isto o homem é, para realizar a sua pessoa – porque a felicidade é o final deste processo: penetrar no eterno é este processo – o homem deve, ele mesmo, tomar nas mãos tudo aquilo que Deus fez.
Este salmo oitavo de Davi, a certo ponto uma pessoa o diz todos os dias.

Eu agora queria dizer o que é mesmo o trabalho para um cristão, como Cristo usou esta palavra. Usando esta palavra não com Cristo, tudo decai e se torna violência: violência pelo poder ou violência suportada sem possibilidade de reconquista.
O aprofundamento da palavra trabalho que faço agora nos seus elementos mais relevantes talvez seja o início da mudança que nós devemos assumir na sociedade em que estamos: mudança do modo com que tratamos a nós mesmos na sociedade que temos, porque Cristo, Deus, oferece a ocasião da mudança através das condições da sociedade na qual vivemos. Não é a sociedade o instrumento que nos traz a força de Deus, mas a grande Presença é dada continuamente pela Igreja através dos sacramentos e das expressões de fé do povo cristão. "Deus, tu és a minha força e o meu canto" 10, força e canto: potência operativa e criativa; e por isso fonte da alegria e, antes ainda, da letícia – porque a alegria acontece em certos momentos, mas a letícia deve se tornar normal, o pano de fundo de cada dia –.
O trabalho para um cristão é o aspecto mais concreto, mais árido e concreto, mais fatigante e concreto, do próprio amor a Cristo.
O amor a Cristo, entretanto, chama a atenção para o fato – mais do que qualquer outro relacionamento – do amor ser um juízo da inteligência que arrasta consigo toda a nossa sensibilidade, toda a sensibilidade humana. De outra forma, o juízo é algo mesquinho, como o juízo do qual a magistratura destes tempos dá exemplos abundantes; mas também como nós, moralistas, que do púlpito sublinhamos sempre como devem ser as coisas e, portanto, julgamos os atos não segundo aquele tender ao melhor e ao justo que torna todo homem moral: pesamos somente o resultado negativo ou a traição que a nós não reprovamos, mas aos outros sim.
O amor a Cristo é um juízo da inteligência. O amor – não apenas "o amor a Cristo" – é um juízo, implica num juízo. O juízo é um reconhecimento de verdade, é um reconhecimento do ser. O juízo é um olhar para o ser que é percebido como uma criança percebe: o resultado frente à realidade que emerge aos meus olhos é uma maravilha. Se isto se mantém, entende-se como foi feito o homem, no seu olhar para tudo, em relação a tudo. As certezas nascem dali, as evidências da certeza nascem dali, de outro modo tornam-se uma definição do poder, isto é, de uma estranheza que sempre reduz e muda de acordo com o seu proveito: o poder não quer nada mais que súditos, no sentido de escravos.
Por isso, o trabalho nos obriga a nos tornarmos mais cristãos, a repensar no nosso amor a Cristo, a repensar em como eu vivo, na utilidade com que vivo e por que e para que tudo foi dado.
O trabalho como o aspecto mais concreto – mais árido e fatigante (e concreto, porém!) – do próprio amor a Cristo: concreto quer dizer o aspecto mais existencial, mais inserido nas coisas que nos circundam, nas circunstâncias.
Detive-me para enfatizar que o amor a Cristo (mas não o amor a Cristo apenas, mas também ao seu companheiro, àquilo que você gostaria de fazer junto com outras pessoas, ou o amor da mãe a seu filho) é um juízo da inteligência que arrasta consigo toda a sensibilidade humana. A sensibilidade humana quer dizer a exigência plena da promessa que é a vida, da promessa que é a nossa estrutura original. A inteligência quer dizer reconhecer que Jesus é Deus, que Deus se fez homem: reconhecer isto. Se há um homem que é Deus (como se lê no Evangelho do Natal, como se diz no Angelus), o inserir-se de uma falta, de uma necessidade ou de uma situação no diálogo com este homem – ou seja, a oração – é a sinceridade e a seriedade do fato de ser homens. "A inteligência arrasta consigo toda a sensibilidade humana": para este homem a minha inteligência não pode deixar de arrastar consigo toda a minha sensibilidade! Deveria acontecer – você tem de admiti-lo – também para a sua sensibilidade que não se mexe, porque você não a estimula, aliás! Você fica passivo, em última instância passivo e espera que a companhia faça por você, espera que as fórmulas e as coisas repetidas façam no seu lugar, se coloquem no seu lugar. No entanto, não, é você que... Bom, não posso agora recordar o que é a liberdade: releiam os Exercícios da Fraternidade do ano passado 11.
O trabalho como o aspecto mais concreto e árido e fatigante do próprio amor a Cristo: falo disto porque na última vez vocês falaram da memória de Cristo, o valor da memória de Cristo; por isto, com esta minha intervenção me dedico a tirar conclusões supondo que para vocês aquele chamado de atenção sobre a memória tenha sido real.

Por natureza, o amor a Cristo compõe o desejo que domina a vida, o desejo de felicidade; mas o compõe de modo tal a fazê-lo tornar-se verdadeiro, com uma constatação: que o nosso desejo de felicidade se torna desejo de que todos os homens alcancem a felicidade. A minha falecida mãe era tão religiosa... e só depois entendi tudo aquilo que me dava, e quanta gratidão devia ter por ela, por Deus que se deu a mim através dela: porque todas as noite vindo cobrir-me – eu me lembro a partir dos cinco anos, até quando fui para o seminário (eu tinha completado dez anos) – não me lembro de nenhuma noite em que não tenha vindo dizer: "Pensemos nos pobres...", "Pensemos naquilo que aconteceu no Japão", "Pense na guerra que há na China"... Chamava a minha atenção para tudo isto, mesmo quando era um pouco maior, nos primeiros anos de seminário, onde ninguém nos falava da China e muito menos das pessoas pobres (sim, nos diziam: "Para os pobres é preciso dar a nossa oferta").
É o amor a Cristo que por natureza compõe o desejo que domina a vida, isto é, satisfaz o desejo que domina a vida como promessa indiscutível, porque a promessa é a natureza do nosso coração: inteligência e afetividade (juízo que puxa atrás de si toda a sensibilidade do coração). Diante do ser da realidade, diante da realidade que emerge aos seus olhos, você fica tocado; é evidente que há esta pessoa à minha frente, é evidente que esta pessoa quer bem a você, porque se curva na sua direção – a tia se curva em direção à criança e você percebe que a tia é parte da mãe! Eu tinha, por exemplo, uma tia solteirona, mas era muito inteligente. Aos 50 anos se deu conta de que não poderia mais casar-se (!) e criou um grupo de solteironas na paróquia, que compôs a vida de tantas. "Compôs", ou seja, sossegou, tornou apazigüada a vida de tantas, porque afirmando aquilo que está no fundo da nossa existência o homem repousa, como diz um salmo das Completas: "Em paz me deito e logo adormeço"12 –.

Ora, o que é o trabalho, para ser uma coisa tão definitiva e decisiva (eu disse que o trabalho é o aspecto mais concreto do amor a Cristo)? Pensem em quem vai para a Pirelli ou para a Fiat esta manhã por oito horas (estão tentando organizar uma greve, que agora é desaconselhada pelo sindicato porque é contra o governo: a primeira coisa é salvar o governo; só depois remediar o desemprego, estar atentos à justiça... Mas não a justiça concebida como instrumento para eliminar os adversários!). O trabalho é a expressão total da pessoa. Se aquilo que dissemos antes é justo, na medida em que o homem é relacionamento com o infinito, com o eterno, com o Mistério – pode-se dizer assim: "relacionamento com o Mistério", para explicar mais a realidade, a verdade do que eu digo – então o trabalho realmente toma tudo e todas as expressões da pessoa. Chama-se trabalho tudo aquilo que exprime a pessoa como relacionamento com o infinito. Pois os gestos que faz um pedreiro ou um mineiro, colocando um tijolo ou cavando um subterrâneo, são relacionamento com Deus: por isso, devem ser respeitados, por isso devem ser objeto de justiça real e também de amor, isto é, de ajuda. Por quê? Porque são trabalhadores e por isso são seres chamados a amar Cristo. Por que há este nexo entre amar Cristo e o trabalho? Porque o trabalho é a forma expressiva da personalidade humana, do relacionamento que o homem tem com Deus (Jesus define Deus como o eterno trabalhador) 13.
Na Carta aos Efésios, São Paulo diz: "Não cesso de dar graças a Deus a vosso respeito e de fazer menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória [gerador da glória], vos dê um espírito de sabedoria e de revelação, para poderdes realmente conhecê-lo [podemos fazer estes votos a nós]. Que ele ilumine os olhos dos vossos corações [os olhos da mente, que se tornam, depois, como corolário, olhos físicos que vêem aquilo que os outros não vêem, também nas aparências] para saberdes qual é a esperança que o seu chamado encerra, qual é a riqueza da glória da sua herança entre os santos [que tesouro de glória encerra o nosso seguir os santos: "Olhai todos os dias os rostos dos santos e tirai conforto das sua palavras"14 tinha escrito padre Villa numa parede da casa postiça que ele teve por curta duração, em uma paróquia no centro de Milão, que é aquela da praça San Babila] e qual é a extraordinária grandeza do seu poder [melhor, da sua presença. Qual é a extraordinária grandeza do seu poder para comigo] para nós, os que cremos, conforme a ação do seu poder eficaz, que ele [o Mistério] fez operar em Cristo [no homem Cristo], ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita nos céus [Cristo, com sua morte e ressurreição, expressa todo o homem, o homem na deficiência da sua existência como criança, quando deve crescer como um animalzinho, e quando é grande, e se confunde dentro das suas idéias], muito acima de qualquer Principado e Autoridade e Poder e Soberania e de todo nome que se pode nomear não só neste século, mas também no vindouro. Tudo ele pôs debaixo dos seus pés, e o pôs, acima de tudo, como cabeça da Igreja, que é o seu Corpo: a plenitude daquele que plenifica tudo em tudo"15.
Cristo, que constrói no tempo o seu corpo, que dilata o seu corpo, o corpo do eu de Cristo (o dilata com a força que o Mistério, o Mistério do Seu Espírito, dá a ele, porque o Mistério o tomou, o fez e o tomou, o fez e o levou à própria natureza de Deus: feito homem, Deus se fez homem), este Cristo, Deus feito homem, tudo (tudo!) foi posto debaixo dos seus pés, e o Mistério "o constituiu sobre todas as coisas como cabeça da Igreja", uma vez que todas as coisas se tornam suas, demonstram que este homem é o Senhor de tudo, este Cristo exprime aquilo que o Mistério é nas coisas. "Constituiu-o sobre todas as coisas como cabeça da Igreja [que é a modalidade e o lugar no qual todas as coisas, através da consciência ativa do homem chamado, do homem batizado, do homem que conheceu Cristo, participam de algum modo do seu corpo]. De fato, tudo pôs debaixo dos seus pés e o constituiu acima de tudo como cabeça da Igreja, que é o seu corpo [a Igreja como corpo de Cristo], a plenitude daquele que se realiza inteiramente em todas as coisas”. A Igreja é o lugar daquele que se realiza inteiramente em todas as coisas, daquele que tem o domínio, a senhoria de toda a história. Por isso dizemos que o sentido da história é a glória deste homem, é que todos dêem glória a este homem: porque o corpo deste homem é a plenitude que se realiza inteiramente em todas as coisas. A plenitude de todas as coisas é como um rio que leva ao mar, e o mar para onde tudo conflui é Cristo: na história tudo conflui para ele. Como conflui para ele? Este rio imenso começa como um riacho; este riacho torna-se sempre mais largo assimilando todas as coisas: é como a água que começa numa fonte e tem três centímetros de largura, depois trinta, depois quarenta e depois cem mil. É a Igreja na história o instrumento para que todos os homens venham para Cristo. Assim, partindo de poucos, com um misterioso porém constatável dinamismo que se chama testemunho de fé, a Igreja deu a Cristo toda a sua história.
Se o trabalho é a expressão do homem sobre as coisas, o amor a Cristo tem a ver, está na raiz, porque de Cristo são todas as coisas. Isto será visto no fim do mundo, no último dia, mas o método de Deus, o plano de Deus implica que este último dia seja precedido pela história da Igreja como corpo de Cristo, seja precedido pela história do corpo de Cristo no tempo.

De que modo nós concorremos para o cumprimento da Igreja, para cumprir o dever que tem a Igreja, a tarefa que a Igreja tem? Como nós contribuímos para tornar mais rico o corpo de Cristo, para dar glória a Cristo, que é o objetivo e o sentido da vida de cada um que é chamado a isto (o único critério que, apesar de toda a sua traição ou fraqueza, o homem deve ter)? Como nós concorremos para isto? Vivendo – e quanto mais vivemos – cada ação, cada expressão da consciência de nós mesmos como sujeito de uma ação, enfrentando as nossas ações segundo a mentalidade de Cristo, e não segundo a mentalidade do mundo que ou é expressão de um instinto ou de uma reação, ou então expressão de poder, de posse. A diferença entre o relacionamento justo entre homem e mulher e o relacionamento errado, traidor, está aqui. Porque o relacionamento não é enfrentado segundo a mentalidade de Cristo: Cristo não é nada naquele relacionamento, não tem nada a ver, o instinto e o cálculo têm a ver, de modo que o relacionamento se torna sempre – sempre! – violência.
Na medida em que o homem vive a fé em Cristo, a memória de Cristo em tudo aquilo que faz, a Igreja revive, vive, se dilata e, dilatando-se, toma também outros, como vocês verão quando meditarem sobre a missão.
Nestes meses, chegaram a mim muitas cartas que diziam: "A virgindade, que utilidade tem?", "O cêntuplo aqui, onde está?", "E depois, sem filhos – dizem as mulheres – sem filhos não se é mulher de verdade". Não obstante toda a verossimilhança que estes juízos têm, são juízos que falam de um tipo de inteligência que não teve a graça de ter o fato cristão, o acontecimento cristão, como objeto: não o viram. Como eu, da primeira vez em que fui para o Brasil de navio: a certo ponto, depois de Gibraltar, vi uma coisinha no alto, um triângulo no alto e perguntei ao capitão: "Capitão, o que é?". "É o cume do vulcão de Tenerife" (depois, voltando, eu o vi de cima, do avião!). Às oito da noite chegamos à altura de Tenerife, contornando toda a ilha; quando perguntei ao capitão eram oito da manhã: levamos doze horas para ver este vulcão! 16 Porém, nenhum dos companheiros de viagem tinha visto aquele triângulo pousado sobre a neblina, que reapareceu entre seis e oito da noite.

De qualquer modo, eu queria dizer a vocês que o nexo entre trabalho e Cristo é um nexo objetivo, porque tudo aquilo que existe é de Cristo: é o Senhor, Rex universi; em Cristo tudo se torna uma coisa – uno! – como dirá novamente a liturgia de Cristo Rei. Christe cunctorum dominator alme17: Cristo, de tudo Senhor fecundo.
A fecundidade da vida do homem não se dá necessariamente porque ele realiza a experiência que o gato faz com a gata e o cão com a cadela (ou o touro com a vaca, para fazer uma comparação mais digna!), mas porque ele torna-se gerador de criaturas que estão na estrada da completude, na estrada da felicidade: revela o sentido da vida, educa ao sentido da vida, testemunha o sentido da vida (sendo que o sentido da vida é dado por Cristo, aquele Cristo que se torna presente no mundo, na história, através da dilatação do seu corpo).
Vocês se lembram da comparação que eu fiz das crianças que estão aos pés de Jesus? 18 Os menores vêem a mão que passa na sua cabeça, e vêem aquela roupa vermelha, aquela túnica vermelha e não vêem o rosto daquele que está em cima; mas mesmo depois de muitos anos, mesmo quando forem velhos, recordarão daqueles momentos. As vestes de Cristo somos nós, agora, nesta passagem fulminante que é a vida: "um sopro é a vida do homem"19, diz o salmo 89. "Um sopro é a vida do homem": quando vocês tiverem setenta, setenta e seis anos será evidente isto (enquanto somos jovens não entendemos, porque tudo parece presente a nós!).
Sendo, portanto, o trabalho a expressão da pessoa com as coisas e a realidade presente, é o amor a Cristo que a torna capaz de trabalhar. É uma coisa totalmente diferente quando uma pessoa vai ao trabalho por amor a Cristo, quando trabalha na memória de Cristo: há uma atenção à totalidade, uma fineza no chegar a todos os capilares, uma paciência no estender-se do tempo, um respeito, por isso, pelo tempo necessário, e depois uma não murmuração, um não lamento pelas circunstâncias que fazem o particular tornar-se desagradável. Aliás, é reavivado nela o sentido de uma fraternidade que se coloque também frente a quem rouba-lhe a casa, ao poderoso, ao senhor, ao patrão (deveriam, então, usar mais esta solidariedade entre eles: contra os sindicatos que não são muito determinados pelo valor do indivíduo, mas por um juízo em função do próprio valor político!).
O amor a Cristo existe na medida em que uma pessoa percebe esta missão que está no trabalho, esta natureza do trabalho. O relacionamento com Deus é relacionamento com Cristo, porque o Mistério revelou-se naquele homem, e muitas coisas que aquele homem disse são raios de luz na escuridão do Mistério (mas não foi revelado tudo a nós; e não só, porque, por exemplo, dizem a Cristo: "Quando acontecerá aquele dia, o último dia?". "Daquele dia e daquela hora, ninguém sabe, nem eu mesmo"20. Não se pode exaurir o Mistério porque Ele se comunica. O objetivo de Deus, criando um homem, foi criar alguém que o reconhecesse; criou um relacionamento familiar, que as primeiras páginas da Bíblia especificam com acenos, como: "Deus descia para falar com eles no começo da noite" – vocês se lembram que a Bíblia fala assim? –)21.
Se nós amamos Cristo, trabalhamos melhor, porque compreendemos. Os trabalhadores que vinham comigo do seminário de Venegono para Milão nos trens da linha Norte, as primeiras vezes que eu ia lá para GS (até três vezes ao dia, uma hora e meia para vir, uma hora e meia para voltar; portanto quando eu ia três vezes por dia era uma bela empreitada!) 22 , aqueles trabalhadores ali não entendiam (e então se tornaram comunistas. Os comunistas desejam o poder como um cristão deseja o Paraíso! E agora subiram ao poder! Não subiram eles: subiram com a participação de muitos católicos. Mas isto aconteceu porque algumas associações tinham mais o senso da organização que o desejo de recuperação do próprio relacionamento com Cristo e do relacionamento da sociedade com Cristo).
De qualquer modo, o relacionamento com Cristo determina a verdade do trabalho: com qualquer um. O trabalho é a expressão do homem que usa, manipula, tudo que está ao seu redor. Antes de mais nada o próprio corpo, a mulher, os filhos, a mãe, o pai: tudo é trabalho, porque é expressão do eu. Se esta expressão do eu for vivida na memória d’Ele, então torna tudo diferente, tudo é destinado a tornar-se diferente. Quantas vezes alguém me diz: "Tenho um companheiro no trabalho que ficou tocado pelo que digo ou pelo que faço ou pela minha postura, e me disse: ‘Mas por que você é assim?’”. Esta é a pergunta que todos fazem antes de virem a ser cristãos como nós: "Como vocês fazem para ser assim?".
Por isso o trabalho, em toda a sua gama, é proporcional ao amor a Cristo. Mas é verdade também o inverso: que o amor a Cristo regenera todo o nosso trabalhar. O amor a Cristo não é verdadeiro se não intervém de algum modo na grande kermesse do nosso trabalho. Mas não se pode amar o trabalho se não se ama Cristo: o trabalho é suportado, é tolerado; adaptamo-nos ("porque devo receber o dinheiro no fim do mês").

Quando vocês falarem ou falarmos da “casa” e da “regra”, falaremos de trabalho: é trabalho aquilo. Levantar-se de manhã, ir para lá onde vocês rezam as Laudes e ver aqueles rostos, quatro, cinco, seis, dez rostos, vê-los assim desbotados ou assim sem motivo para começar o dia, porque a maior parte de nós é assim, ou nem mesmo vê-los, porque não foram (e isto é pior ainda): é trabalho suportar ou tolerar isto, vencendo um katéchon, um obstáculo (porque para ir trabalhar às oito na Pirelli você deve superar o obstáculo de ter que sair de casa às sete!). É o amor a Cristo que explica tudo isto e que torna não "tolerável", mas amoroso o relacionamento que temos com todos os homens e com todas as coisas, esta expressão de nós que não teríamos previsto nunca, não teríamos nem suposto. O amor a Cristo torna tudo possível, simplificando tudo.
O amor a Cristo é um juízo da inteligência – dizia antes – que arrasta consigo toda a sensibilidade humana: é um juízo sobre o relacionamento que tenho com certas pessoas ou certos âmbitos ou certo pedaço de Igreja onde se entende que Cristo está, porque em Seu nome muda-se tudo, porque há uma influência sobre quem vai ali. O juízo da inteligência é: "Cristo está aqui"; isto dá um choque, dá um golpe na nossa pessoa, na nossa personalidade, na nossa história, e assim desperta uma evidência e um gosto, uma certeza, um gosto de certeza, que é proporcional a como nós fazemos as coisas: começa a constituir verdadeiro o relacionamento.
Depois, ir para a universidade ensinar ou ser ensinados, ou ir para a fábrica onde você é chefe, vice-chefe ou vice-subchefe ou é apenas um como os outros, fazer isto é trabalho cujo sujeito adequado é o amor a Cristo. Porque Cristo é o sentido de tudo e a memória de Cristo é o antecedente de toda realização, de toda criação. Quando os nossos dedos plasmam – como os dedos de Deus plasmam o céu e as estrelas – aquilo que se faz, tornam presente Cristo naquilo que se faz. Por isso vale a pena ir para o trabalho.

Esta premissa a tudo que vocês lerão ou ouvirão sobre o trabalho precisa ser terminada. Eu insisti, porque é estranho ouvir falar que o trabalho seja o aspecto mais concreto, mesmo se árido, mais árido e fatigante, do próprio amor a Cristo!
Rapazes, devemos dizer que Cristo é tão interessante que não se pode tirá-lo, não se pode mais tirá-lo: onde entrou e deu um soco no estômago, onde aconteceu um estremecimento, onde houve uma abertura de olhos por um mínimo de maravilha, a tua vida é chamada a despertar-se toda neste primeiro impulso. Porque "se não fosse Tu, ó Cristo, eu seria criatura finita".23 Quem dizia isto? São Gregório Nazianzeno. Ou?

"Quando encontrei Cristo me percebi homem"24, dizia Mario Vitorino no século IV, o último grande retórico. Ou aquilo que eu tinha escrito numa pequena imagem do meu seminário – um rosto de Cristo de Carracci –: "Eu acho que não poderia mais viver se não o ouvisse mais falar"25.
Devemos pedir a Nossa Senhora a graça de crer verdadeiramente e com letícia, porque não há nenhuma verdade mais evidente do que esta na nossa vida e porque a evidência porta consigo todo o fluxo da sensibilidade humana. Por isso, não se pode conhecer se não se conhece com afeição: sem afeição não é conhecimento, mas é projeção do preconceito, de um preconceito sobre a coisa. É a maravilha que a coisa produz em nós que torna a inteligência capaz de compreendê-la (a criança é assim). Como diz o salmo: "Tu me viste, me conheceste desde o ventre materno"26, assim nós devemos pensar Deus. Ou como quando Cocagnac nos faz cantar "Oh, si tu savais combien je t'aime, tu retournerais Jérusalem", "Retornarias, Jerusalém, a mim, virias ainda a mim, se tu soubesses quanto te amo": mais que desculpar-se, deve prevalecer o apego a Cristo!

Porém, para falar destas coisas devemos conceber todos os nossos relacionamentos como oferta a Cristo. Então, tomamos cada coisa para que o relacionamento com ela torne-se parte da veste de Cristo, que é o corpo de Cristo que se dilata em toda a história. Por isso Cristo está presente, totalmente presente, e não apenas através da Eucaristia! A Eucaristia é um sinal grande, o Mistério que se identifica com o sinal; mas todo o contexto humano – que se exprime sumamente na Eucaristia, que exprime o seu relacionamento com o sentido da vida e com o Mistério na Eucaristia – toda a vida humana é este objeto. Assim o homem estica a mão e toma a coisa e a plasma, e então os outros, e então o mundo, passando ali, vendo uma coisa plasmada daquele modo, se maravilha e pergunta: "Como é possível, como pode ter esta coisa aqui? Não há em nenhum lugar do mundo um estabelecimento que faça isto assim!".

(traduzido por Carlos Augusto Faria)

Notas:

[1] A. M. Cocagnac. “Chant de penitence”, in: Il libro dei canti. Milão, Jaca Book, 1976, pp. 520-521.
[2] 1 Cor 15, 28.
[3] Tu ou da amizade, notas das meditações de Luigi Giussani e Stefano Alberto nos Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação. Rímini, 1997.
[4] Cf. Sl 51, 5; 61, 5; Is 59, 3; Jr 6, 13; 8, 10; 9, 4.
[5] «Il n’est pas d’idéal auquel nous puissions nous sacrifier, car des tous nous connaissons les mensonges, nous qui ne savons point ce qu’est la vérité» (A. Malraux. La tentation de l’Occident. Paris, Bernard Grasset, 1926, p. 216).
[6] Cf. Dt 6, 6-9.
[7] Cf. Rm 14, 8; 1 Cor 10, 31; 1 Ts 5, 10.
[8] Cf. Jo 14, 6.
[9] Cf. L. Giussani. “Tu” (o dell’amicizia). Milão, Rizzoli, 1997, p. 329.
[10] Cf. Ez 15, 2; Sl 117, 14; Is 12, 2.
[11] Tu ou da amizade. Op. cit., pp. 18-19.
[12] Sl 4, 9.
[13] Cf. Jo 5, 17.
[14] Didaquê, IV, 2.
[15] Ef 1, 16-23.
[16] Cf. L. Giussani. Si può (veramente?!) vivere così? Milão, Rizzoli, 1996, p. 137.
[17] “Christe cunctorum”, Hino da dedicação do templo.
[18] Cf. Tu ou da amizade. Op. cit., p. 34.
[19] Cf. Sl 89, 9.
[20] Cf. Mt 24, 36; Mc 13, 32.
[21] Cf. Gn 3, 8.
[22] Cf. L. Giussani. “Tu” (o dell’amicizia). Op. cit., pp. 52-53.
[23] São Gregório Nazianzeno. «Carmina» II/I, carme LXXIV, vv. 4-12.
[24] M. Vittorino. In epist. ad Ephesios, libro II, cap. 4, v. 14.
[25] Cf. A. J. Möhler. Dell’unità della Chiesa. Milão, Tipografia e libreria Pirotta e C., 1850, p. 52.
[26] Cf. Sl 138, 13.