Notas da síntese de Julián Carrón na Assembleia dos Responsáveis de Comunhão e Libertação na Itália. Pacengo di Lazise (Verona), 11 de março de 2018


Haja o que houver
Canção de Maria Clara

“Em nossos olhos os fatos, em nossas mãos os códigos”, dizia Santo Agostinho (Sermo 360/B,20: Sermo sancti Augustini cum pagani ingrederentur). Neste momento, o sinal mais evidente se tivemos ou não nos olhos os fatos que comprovam a presença viva de Cristo é a maneira como recitamos os Salmos (os códigos). Tendo nos olhos os fatos, os Salmos nos falam com uma densidade e uma profundidade que de outro modo nos escapariam. O Salmo 45 que acabamos de recitar é quase uma síntese de tudo o que vivemos e dissemos nestes dias. Quem sabe o que terá experimentado a pessoa que o escreveu, que experiência de Deus terá tido! Tendo de enfrentar os desafios da vida, não pôde olhar para eles senão com o Senhor nos olhos: “O Senhor para nós é refúgio e vigor, / sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia; / assim não tememos, se a terra estremece, / se os montes desabam, caindo nos mares, / se as águas trovejam e as ondas se agitam, / se, em feroz tempestade, as montanhas se abalam. / [...] [Mas] à morada do Altíssimo / quem a pode abalar?”, pois “Deus está no seu meio!” (“Salmo 45”, In: O livro das horas. São Paulo: Cia. Ilimitada, 2016, p. 22).
Essa certeza não vem à tona olhando a vida da janela, mas deixando-se desafiar por cada tremor de terra. Assim, toda vez que percebemos um baque do real, podemos reconhecer: “Conosco está o Senhor do universo! / O nosso refúgio é o Deus de Jacó! / Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus / e a obra estupenda que fez no universo”. Tudo faz parte do caminho para conhecê-Lo. É só enfrentando as dificuldades, os desafios e as circunstâncias concretas que podemos reconhecer um Outro em ação: “Parai e sabei, conhecei que eu sou Deus, / que domino as nações, que domino a terra!” (Ibidem). Não é uma definição vazia, mas uma realidade tão presente, que se torna mais evidente quanto mais poderoso for o desafio. Se o nosso caminho não for isso, ou seja, se não houver uma verificação, a nossa fé terá um prazo de validade, cedo ou tarde diminuirá, não porque cheguemos a fazer algo particularmente contrário a ela, mas porque prevalecerá o medo, num determinado momento prevalecerá outra coisa em vez da Sua presença.
Então, com essas palavras do Salmo nos olhos, podemos olhar para o que vivemos. (...)