<em>Favela pela janela</em>, de Simone Santos

Revista Passos. Folheando páginas de carne

Giovanna, uma assinante da Revista Passos, escreveu à redação para agradecer e descrever uma companhia que, mesmo durante o isolamento, «entrou no meu quarto sem ressalvas»

Não é novidade dizer desses últimos tempos tão “inéditos” em vários sentidos. Neste fim de semana falaram de uma espécie de diagnóstico: “Exaurimento do Zoom”, essa “hiperconexão” que fomos em certo sentido chamados a viver por conta da Covid. Eu me senti muito representada. Estou com computadores e celulares duplicados por conta do home office. Tenho cerca de 150 meninos do trabalho semanalmente mandando mensagens no WhatsApp. Falo da minha experiência, mas sei que a de algumas pessoas pode ser até pior.

Mas tudo isso porque queria lhes agradecer que continuem mandando as revistas “carnais”. Vou brincar com essa expressão para fazer um paralelo com aquilo para o qual Carrón tem chamado tanto a nossa atenção: esta nossa necessidade da carne. Não pensei que me daria conta disso um dia, mas as Revistas, diante dos nossos olhos, tocadas... são carne.

Eu confesso que ainda não consegui ler o último livro da Entrepassos, tenho lido tantos, meu coração vai sendo atraído por tudo ao mesmo tempo. Mas só queria dizer que ter lido sobre a Conceição Evaristo no Guia de Leitura, ter visto a foto dela e recebido aquele “mimo” da Favela pela Janela [um quadrinho de brinde que cada assinante ganhou, vide foto], foi essa carne. Nesse momento em que nos é pedido sacrifícios nos encontros, a Conceição entrou no meu quarto sem ressalvas. Assim como ontem, lendo a Passos, eu fiquei cara a cara, de novo, com a Clarice Lispector. Deixei a foto dela aberta, sem máscara: “A mulher que perseguia o Infinito”. Essa mulher sou eu também. Me lembrava quem eu sou e o tamanho do desejo do meu coração. Eu juro. Não fechei mais essa página da Revista. Não tive coragem. Depois foi a Irmã Laura Girotto que veio me visitar. Sem nenhum medo da Covid. “Felizes vocês que têm somente o coronavírus”. Levei um chacoalhão. Carne demais. Não quero que minha vida seja de um comodismo burguês, ou que minha experiência de fé não tenha a ver com a Etiópia. Obrigada por me ajudar a voltar a pedir por isso! OBRIGADA.

Eu realmente estou vivendo isso. Não são palavras. Chego a me comover. Eu quase não consegui acompanhar tudo nas redes, confesso que estou “exaurida” mesmo. Mas queria dizer que eu desejo que a gente volte a redescobrir essa experiência da carne, de estar acompanhado na solidão, de redescobrir as nossas casas como disse a Lizi e a Débora em outro artigo. Desejo que a Passos seja assinada por muitos e muitos, para ser sinal dessa carne, como consequência desse amor que é carne e osso, que chega às nossas casas como carne e osso.

Fiquei pensando que é impossível viver isso sem pensar no trabalho de vocês e sem pensar nos amigos da Entrepassos. Por mais que nesta correria «tudo conspire para nos fazer calar», como diria Rilke, calar em nós essa esperança inefável, é uma Esperança inefável essa nossa companhia!

Giovanna, Belo Horizonte