Foto Unsplash/Vladimir Fedotov

«O sopro que apaga o cinismo»

Recém-formados em Medicina, nos últimos meses foram lançados nos hospitais em pleno estado de emergência. O que viram e viveram? Alguns deles contaram como foi, como a Melisa, residente do primeiro ano
Paola Bergamini

Imóvel no leito, o respirador acoplado. Melisa, toda coberta pelas proteções anti-covid, aproxima-se de Giovanni, pensando: «Vou até alguém que está morrendo, não há mais nada que fazer». Confere o soro, pega sua mão e ele, inesperadamente, a aperta com força e abre os olhos. «Contra meu pensamento conformado, estava me dizendo que ele estava lá. Foi um dos momentos em que a esperança renasceu, quando vi que aquele homem era amado e salvo por Outro. Seu valor era maior do que seus parâmetros clínicos.»

Quando em março a pandemia estourou, Melisa, no primeiro ano de especialização em reanimação, foi parar na terapia intensiva de um hospital para doentes de covid da Brianza. Na loucura daqueles dias, onde teve que aprender em campo aquilo que estudava depois nas horas livres do seu dia, foram momentos assim, de sopros que a faziam viver. Certa manhã, um reanimador com quem ela trabalha, o mais mal-educado e mal-humorado, lhe disse: «Seja sempre assim». «Em que sentido?», perguntou-lhe. «Tão sincera», foi a resposta seca.

«São “pessoas e momentos de pessoas”, como diz Dom Giussani, presenças que se impuseram e me abriram, em dias nos quais o cansaço físico e a resignação, às vezes também o cinismo, pareciam tomar as rédeas.»

Desde setembro, Melisa está numa reanimação “limpa”, livre de covid. Um dia precisou fazer uma consulta a um jovem em seu segundo derrame. Para ela era difícil olhar para ele pensando nas duras consequências que a doença vai acarretar. Entrou uma doutora que exclamou: «Oi, Giorgio!» O homem parou de chorar, abriu os olhos e com dificuldade balbuciou: «Oi». «Ao chamá-lo pelo nome, como se fosse um amigo querido, ela lhe tinha querido bem. Isso valia mais do que o meu ceticismo». A esperança é isto: sentir-se amado.

Fim de novembro. Diante de uma situação muito complexa, o cirurgião, chamado com urgência, disse à paciente: «Agora, só resta rezar, e muito!» A mulher se explicou: «Mas eu nunca rezei». Melisa estava ao lado. Todos estavam em silêncio. O diretor do departamento se aproximou: «Para rezar, não precisa ser capaz, basta o desejo». Para Melisa foi uma inversão. «Eu ia dizer: eu rezo por ela. Mas aquele médico afirmou uma coisa muito mais importante: era filha de Deus, mesmo tendo-o negado por toda a vida, então podia pedir ao Pai. Era amada enquanto filha».