Gênova. Um presépio de rua
O Cartaz de Natal, este ano, é uma Adoração dos Magos de 1457, esculpida pelos irmãos Gagini. Aqui está sua história, junto com a de outras obras disponíveis a todos e sempre. Imagens que velam sobre a vida de todo diaÉ o presépio das vielas. No coração de Gênova, caminhando pela Rua dos Ourives, chegando ao número 47, se levantamos a cabeça vemos que estamos na frente de algo inesperado. No nível da rua estão as vitrines, colocadas na esquina, de uma loja de facas. Acima dessa vitrine, em vez da placa desponta um grande baixo-relevo de mármore com a Adoração dos Magos. Naturalmente estava naquele lugar bem antes que abrissem aquele estabelecimento comercial. Uma placa, de fato, lembra a provável data em que foi realizado, 1457, e também informa os autores, Elia e Giovanni Gagini. É um presépio de rua que por séculos velou sobre esse beco genovês e fez levantar a cabeça, em sinal de gratidão e devoção, de milhares de homens e mulheres que aqui viveram ou que por aqui simplesmente passaram. O autor é um artista que faz parte de uma dinastia de escultores provenientes de Ticino, que em meados do século XV se foram embora da nativa Bissone: uma parte da família chegou a Gênova, enquanto outro ramo, o mais nobre, se estabeleceu em Palermo. O chefe da família, Domenico, tinha se formado nos canteiros de Brunelleschi em Florença. Giovanni foi seu neto e o provável autor da Adoração da Rua dos Ourives; não é a única obra de rua que ele deixou na cidade, porque também temos de suas mãos outros dois baixos-relevos, com a história de São Jorge, do qual um, particularmente bonito, está na Rua do Caniçal, novamente acima da fachada de uma loja.
Hoje somos menos levados a levantar a cabeça e a nos surpreender com essas presenças ao longo das ruas que frequentamos diariamente. No entanto, se a Itália é um país que não tem comparação no mundo, é justamente por essa ideia da arte, e então de beleza, como patrimônio difundido e à disposição de todos. São as obras que o Tripadvisor indica, com razão, como 24/24, ou seja, sempre abertas, a qualquer hora do dia e da noite. Não são monumentos, porque não têm nada de retórico. São imagens muitas vezes furtivas, apartadas, assentadas nas esquinas das ruas, que velam sobre a vida de todo dia. Imagens para as quais podemos levantar o olhar, para pedir proteção ou em sinal de agradecimento.
Em Roma, só para dar um exemplo, contam-se ainda hoje 522 “Madonnelle stradaiole” (Nossas Senhoras de rua) das quase dois mil que povoavam o centro da cidade. Eram sempre adornadas com flores e velinhas e, como notou Stendhal em seus Passeios romanos, à noite iluminavam as ruas da cidade: um outro jeito simples de se propor como presenças protetoras. A mais famosa das “Madonnelle stradaiole” é a da Edicola del Ponte, na Rua dos Coronários, na qual trabalharam dois figurões como Antonio da Sangallo e Pierin del Vaga, que pintou a imagem da Coroação da Virgem. Também se atribuíam milagres às imagens, como o da Nossa Senhora do Archetto, que chorou com a chegada dos franceses ao Estado Pontifício; por isso foi acolhida num minúsculo santuário, que é a menos igreja de Roma.
Já em Florença, a forma mais difundida dessas presenças de rua era a dos tabernáculos. O mais espetacular certamente é o Tabernáculo das Fontezinhas (por causa das sete cabeças de querubins que derramam água na fonte que fica embaixo): é uma grande cerâmica envidraçada, com Nossa Senhora, o Menino e uma pletora de Santos. Oferece-se aos nossos olhos, presenteando-nos a qualquer hora do dia e da noite o azul intenso que só os Della Robbia sabiam realizar (neste caso, tratou-se de Giovanni della Robbia). As cerâmicas envidraçadas eram frequentemente como joias gratuitamente aninhadas no tecido da cidade. Em Florença não podem ser esquecidos os círculos com os infantes no pórtico de Brunelleschi do Hospital dos Inocentes.
Mas o resultado mais fantasmagórico é encontrado em Pistoia, onde no pórtico do Hospital del Ceppo, Santi Buglioni realizou no início de 1500 a longa faixa decorada com as Sete Obras de Misericórdia. É uma faixa que se desenrola como um filme em tecnicolor, projetado dia e noite. Quem passava ali embaixo podia olhar e ter a certeza de que na necessidade nunca seria deixado sozinho.