Papa Francisco: «Assim Dom Giussani educou para a liberdade»
No dia 22 fevereiro de 2005 falecia o fundador de CL. Dez anos depois, na Audiência com o Movimento, o Santo Padre acolheu os peregrinos lembrando «o bem que este homem me fez, assim como à minha vida sacerdotal»(...) Sou grato a Dom Giussani por vários motivos. O primeiro, mais pessoal, é o bem que este homem me fez, assim como à minha vida sacerdotal, através da leitura dos seus livros e artigos. O outro motivo é que o seu pensamento é profundamente humano e chega ao mais íntimo do anseio do homem. Vós sabeis o quanto a experiência do encontro era importante para Dom Giussani: encontro não com uma ideia, mas com uma Pessoa, com Jesus Cristo. Foi assim que ele educou para a liberdade, guiando ao encontro com Cristo, porque é Cristo quem nos confere a liberdade autêntica. Falando sobre o encontro, vem-me ao pensamento A vocação de Mateus, o quadro de Caravaggio que eu admirava prolongadamente em São Luís dos Franceses, cada vez que vinha a Roma. Nenhum daqueles que estavam ali, nem sequer Mateus, ávido de dinheiro, conseguia crer na mensagem do dedo que o indicava, na mensagem daqueles olhos que o fitavam com misericórdia e o escolhiam para o seguimento. Sentia o enlevo do encontro. É assim o encontro com Cristo que vem e nos convida.
Tudo na nossa vida, tanto hoje como na época de Jesus, começa com um encontro. Um encontro com este Homem, o carpinteiro de Nazaré, um homem como todos e, ao mesmo tempo, diferente. Pensemos no Evangelho de João, onde ele descreve o primeiro encontro dos discípulos com Jesus (cf. 1, 35-42). André, João e Simão: eles sentiram-se fitados até no seu íntimo, profundamente conhecidos, e isto gerou neles uma surpresa, uma admiração que, imediatamente, os levou a sentir-se ligados a Ele... Ou quando, depois da Ressurreição, Jesus pergunta a Pedro: «Tu me amas?» (Jo 21, 15), e Pedro responde: «Sim»; aquele sim não era o resultado de uma força de vontade, não vinha somente da decisão do homem Simão: antes ainda, vinha da Graça, tratava-se daquele «primerear», daquele preceder da Graça. Foi esta a descoberta decisiva para são Paulo, para santo Agostinho, e para muitos outros santos: Jesus Cristo é sempre o primeiro, antecipa-nos, espera por nós, Jesus Cristo precede-nos sempre; e quando nós chegamos, Ele já está ali à nossa espera. É como a flor da amendoeira: é ela que floresce primeiro, anunciando a primavera.
E sem a misericórdia não se pode compreender esta dinâmica do encontro que suscita o enlevo e a adesão. Só quem foi acariciado pela ternura da misericórdia conhece verdadeiramente o Senhor. O lugar privilegiado do encontro é o afago da misericórdia de Jesus Cristo em relação aos meus pecados. E por isso, às vezes, vós ouvistes-me dizer que o lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo é o meu pecado. É graças a este abraço de misericórdia que surge em nós o desejo de responder e de mudar, e que pode nascer uma vida diferente. A moral cristã não é o esforço titânico, voluntarista de quem decide ser coerente e é bem sucedido, uma espécie de desafio solitário perante o mundo. Não! Esta não é a moral cristã, é outra coisa. A moral cristã é uma resposta, é a resposta comovida a uma misericórdia surpreendente, imprevisível e, segundo os critérios humanos, até «injusta», de Alguém que me conhece, conhece as minhas traições e que, no entanto, me ama, me estima, me abraça, me chama de novo, espera em mim, espera algo de mim. A moral cristã não consiste em nunca cair, mas em levantar-se sempre, graças à sua mão que nos resgata. E o caminho da Igreja é também este: deixar que se manifeste a grande misericórdia de Deus. Recentemente eu disse aos novos Cardeais: «O caminho da Igreja é não condenar eternamente ninguém; é derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com um coração sincero; o caminho da Igreja é precisamente sair do próprio recinto para ir à procura dos afastados, nas “periferias” essenciais da existência; é seguir integralmente a lógica de Deus», que consiste na misericórdia (Homilia, 15 de fevereiro de 2015). Inclusive a Igreja deve sentir o impulso jubiloso de se tornar flor de amendoeira, ou seja, primavera como Jesus, para a humanidade inteira. (...)
Papa Francisco, Audiência com o movimento de Comunhão e Libertação (Praça São Pedro, 7 de março de 2015)