Um dos jardins da Escola Agrícola de Manaus

No coração da Amazônia

Retomamos a história da escola agrícola, que além de abrir portas para o desenvolvimento econômico de seus jovens, há décadas contribui para uma formação integral da pessoa. Conheça a voz de quem atua o que eles veem (da Passos de abril/22)
Isabella Alberto

«Hoje eu digo que tudo o que tenho na minha vida é graças à minha profissão. Eu gosto de ensinar, adoro o que faço e tudo começou nesta escola agrícola.» Antônio Marcílio é ex-aluno e professor de veterinária na Escola Agrícola Rainha dos Apóstolos e expressa toda sua gratidão a este lugar. Localizada no km 23 da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, e que também é conhecido como Ramal dos Padres, a escola já foi responsável pela formação de cerca de 3.500 pessoas ao redor do Estado. Seu núcleo inicial é de 1974, mas foi a partir de 1985 que a escola passou a oferecer formação profissional de Técnico Agropecuário, sendo reconhecida na região por sua excelência no ensino. São três anos de ensino médio e de formação técnica feitos simultaneamente em regime de internato. Celso Batista, diretor da instituição, explica a proposta: «No curso, eles recebem técnicas de zootecnia e agricultura. Na parte de animais, o aluno vai aprender desde o manejo de minhocas, até o manejo de bois e cavalos. Já na agricultura, eles realizam atividades na parte de hortaliças. Nós temos a agricultura orgânica e convencional, além do contato com toda a parte de culturas regionais como a pupunha, o cupuaçu e a laranja».

O dia começa cedo e às 6h30 acontece o despertar. No período da manhã os alunos participam das aulas teóricas e à tarde das aulas práticas. Para a recreação a escola disponibiliza de um campo de futebol e quadra de vôlei, uma biblioteca, sala de vídeo, mesa de ping-pong e a loja de conveniência. Às 22h todos são convidados ao recolhimento para descanso. Darlete Oliveira, pedagoga da escola, afirma: «A minha melhor experiência aqui é ver o crescimento dos alunos, como eles entram e saem da escola. É uma experiência bonita de mãe, e quem é mãe sabe disso». E ela explica que na proposta da escola está a formação da pessoa na sua totalidade, e através das diversas atividades diárias eles são acompanhados numa formação cultural e humana, além da questão profissional. «O aluno vem e fica longe do convívio familiar e acabamos nos tornando a família dele», diz Celso.

O cultivo de hortaliças

Pelas seis refeições diárias e por toda a manutenção do alojamento e estudo, os alunos pagam uma taxa simbólica e o sustento vem todo de parcerias público-privado e da ajuda de benfeitores. É uma luta contínua, mas cheia de gratidão, pois a escola é um ponto de esperança para muitas famílias. Ela surgiu quando alguns padres italianos do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME), atuando na região, notaram a necessidade de educação básica para aquela população. Apesar da riqueza da Amazônia, os municípios são pobres, e a maioria dos alunos chega de áreas indígenas e ribeirinhas. E neste percurso de 3 anos na escola, são muitos os desafios para os jovens, e cabe aos educadores a tarefa de ajudá-los a permanecer. «Neste período eles vivem a saudade, a tristeza, têm que se adaptar à convivência, querem ter coisas que os pais não conseguem dar. Chegam com uma base de estudos fraca, às vezes sem ler direito, e nos empenhamos muito com eles. Temos alunos que passam no vestibular, e muitos agradecem, pois reconhecem que foi através deste período na escola que se despertou o desejo de continuar crescendo», diz Darlete.

Além do ensino médio, em que os alunos ficam como internos, por sua grande estrutura a escola também oferece a formação no ensino fundamental. Todos os anos cerca de 450 alunos que moram nas proximidades da instituição são levados diariamente para a Rainha dos Apóstolos por meio de um ônibus da própria escola. Ali eles contam com 35 professores.

Mestres que fazem também uma experiência de paternidade, chegando a acolher até na própria casa quem mais precisa de apoio. Foi o caso de Joilton da Silva, atualmente com 17 anos, proveniente da Tribo Sateré Mawé. Ele chegou à escola em 2016 quando estava no ensino fundamental. Ficou morando com a família do professor Manoel Carlos para concluir esses estudos. Depois, a partir de 2019 entrou como interno. «Aqui na escola aprendi muitas coisas e estou começando a realizar meu sonho. Sempre quis lidar com manejo de animais e trabalhar com as plantas de maneira correta. Assim posso levar para a minha comunidade as orientações técnicas para a produção de alimentos de origem vegetal e animal. E quero representar a minha etnia entrando para o Serviço Militar brasileiro. Tem a saudade da família, mas esses amigos é que me ajudam a viver aqui, dando apoio para continuar o curso», afirma o jovem.

Em 2013 a escola passou por uma situação econômica muito difícil e quase fechou as portas. Foi um momento dramático para toda a administração, sobretudo ao pensar nos jovens que têm ali um ponto de apoio cheio de esperanças para um futuro melhor. Através dos amigos do movimento Comunhão e Libertação foram apresentados a italiana Monica Poletto e conheceram assim a experiência das Obras Gêmeas da Companhia das Obras – Obras Sociais (CdO OS), dirigida por ela. Um intercâmbio de experiências entre as realidades italianas e as latino-americanas. Assim, a escola entrou nesta rede, onde é possível partilhar as experiências, aprendendo com outras realidades semelhantes que enfrentam os mesmos desafios, e enriquecer-se com essas trocas entre as obras. Isso foi uma verdadeira revolução para eles, e mais recentemente também receberam uma ajuda financeira fundamental para atravessar a primeira fase da pandemia de Covid.

«Essa amizade foi uma transformação nas nossas vidas. A CdO para nós se tornou uma vida, seja para a obra, seja para nós como pessoas. Oferece uma ajuda que nos motiva. Não elimina o trabalho, as tristezas, mas ajuda a ver a beleza da vida, também dentro das dificuldades. É uma paixão, é um brilho que levamos também para os nossos alunos», afirma Celso. «Quando penso em tudo o que aconteceu e acontece na minha vida, me vem uma gratidão imensa, pois não saberia experimentar tudo isso sem a companhia que Deus me deu no carisma de Dom Giussani. O maior feito que a gente tem é desenvolver esses meninos para que eles se tornem pessoas maduras», conclui Darlete.