A paz também pode florescer no Líbano
Jihane Rahal, que trabalha para a AVSI no País dos Cedros, fala sobre as dificuldades de um país que vive à beira do abismo, mas em um caminho de bem que «nos põe à prova com toda a nossa humanidade»A Suíça do Oriente Médio. Era assim que o Líbano era chamado há alguns anos atrás, em razão de sua riqueza e de sua capacidade de diálogo em meio ao caótico contexto do Oriente Médio. Hoje, muito pouco resta de sua antiga glória: sem presidente da República há mais de um ano e mergulhado em uma crise econômica que se arrasta há anos, este país sofre a pressão de milhões de refugiados procedentes da Síria, do Iraque e da Palestina. Os desentendimentos com seus vizinhos israelenses, que se intensificaram no sul do País dos Cedros, coincidindo com o ataque do Hamas do dia 7 de outubro, não facilitam as coisas. No entanto, há aqueles que ainda apostam no Líbano, e o fazem com convicção. «O meu país é belíssimo, mesmo que atormentado. A situação política está estagnada, há muitas dificuldades e problemas, sobretudo desde a explosão no porto de Beirute e o agravamento do conflito em nossas fronteiras. Mas o povo libanês é resiliente, generoso, ainda tem vontade de construir algo bom. Nós da AVSI acreditamos nisso». Essas são as palavras de Jihane Rahal, uma ítalo-libanesa que vive em Beirute desde 2014 e é responsável pela comunicação da Fundação AVSI para toda a região MENA (Oriente Médio e Norte da África).
«Nas últimas semanas fomos postos à prova porque a nossa equipe é formada majoritariamente por libaneses e há muita agitação por causa de tudo o que está acontecendo entre Israel e o Hamas. Surge a tentação de se posicionar de um lado ou de outro, mas o verdadeiro desafio é buscar a paz, também e sobretudo no diálogo entre nós, com toda a nossa humanidade. A nossa contribuição começa aí: levar a sério o desejo de justiça e de verdade que todos têm e canalizá-lo para um caminho de bem. A nossa tarefa não consiste em exacerbar a violência, mas em estar ao lado daqueles que sofrem e ajudá-los, independentemente de suas convicções religiosas ou políticas. Atendemos a todos: libaneses, refugiados sírios, palestinos… Não resolveremos as guerras, quem dera tivéssemos esse poder, mas que satisfação é ver crianças que não iam mais à escola estudando e acompanhá-las, ou ver homens e mulheres que redescobrem seu próprio valor ao retornar ao mundo do trabalho».
As atividades da AVSI no Líbano são numerosas. A ONG está presente aqui desde 1996 e, ao longo desse tempo, acompanhou e apoiou quase 200.000 pessoas. Ela trabalhou em campos de refugiados palestinos, apoiou a reconstrução após a terrível explosão no porto de Beirute em 2020, promoveu intervenções de cash for work, que permitem que seus beneficiários desenvolvam trabalhos de utilidade pública em troca de um salário decente. Como a agricultura é uma das principais fontes de renda do país, a AVSI apoia várias escolas agrícolas estatais e também várias start-ups, bem como agricultores e cooperativas libanesas através de cursos de formação. Mas isso não é tudo. Na planície de Marjayoun, a AVSI organiza atividades educativas e de apoio psicossocial para crianças sírias e distribui produtos de primeira necessidade – continua Jihane –. «Agora que as águas estão agitadas, tivemos que suspender temporariamente as atividades de nosso centro multifuncional, criado para responder às necessidades concretas das comunidades do sul do país. Mas continuamos on-line e é comovente ver como, apesar de a eletricidade ir e vir, as famílias tentam se conectar. Assim, elas ensinam seus filhos que estudar e ter curiosidade é bom e que as dificuldades podem ser superadas estando juntos. Isso também é um início de pacificação».#Pelapaz